Reflexão: O que realmente é importante?

Hoje, ao abrir o Evangelho Segundo o Espiritismo para escolher um tema para esse post de retorno ao blog, me deparei com o texto "A desgraça real", o qual eu não me lembro de já ter lido nesses 9 anos de estudos espíritas, e que surpreendentemente traz uma reflexão muito pertinente para o momento que estamos vivendo durante esta quarentena.

Inclusive a tonalidade mais incisiva do texto nos induz a uma reflexão séria sobre este tema e nos convida a reavaliar nossa forma de pensar e de agir em relação a todas as coisas que acontecem nas nossas vidas.

Segue abaixo o texto na íntegra, e após, a nossa reflexão:

"A desgraça real

Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a vêem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só vêem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos arranca as arvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.

Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua compensação na vida futura.

Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.

Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo.

Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste? — Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)" (Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 24.)

Nossa forma "humana" de pensar é naturalmente limitada, pois tendemos a ver todas as coisas pela ótica material. Não poderia ser diferente, pois nossos cinco sentidos respondem estritamente às coisas materiais, pois são elas que tem cores, texturas, cheiros, sons e sabores. E como nosso "sexto sentido" normalmente não se encontra desenvolvido, nada mais natural do que confiarmos somente naquilo que nossos sentidos podem captar, ou seja, somente o que é material.

Porém à medida que vamos nos desenvolvendo, desenvolvemos o pensamento, a lógica e a imaginação, e isso apesar de não ser nada extra-sensorial, nos permite ir além do convencional, a pensar "fora da caixa". E utilizando esses instrumentos, nos tornamos questionadores das coisas, querendo saber o que acontece por trás de tudo, aquilo que existe mas ninguém sabe explicar como.

As religiões e as filosofias são maneiras de nos reconectar com esse elemento oculto, com essa espiritualidade que para nós soa tão desconhecida. Felizmente no nosso caso, Kardec e sua turma fizeram a lição de casa por nós, trabalhando na codificação dessa doutrina tão esclarecedora, com alicerces sólidos na lógica e na fé raciocinada, facilitando muito o nosso entendimento e a nossa jornada.

Mas dessa vez não estamos aqui para falar do Espiritismo. Estamos aqui para ir ainda mais longe nessa questão.

Acontece que mesmo quando somos pessoas "espiritualizadas" e "esclarecidas" , independente de qual caminho tomado nessa jornada, já temos ciência de que há muitas coisas além do mundo material. No meio espírita, por exemplo, vemos pessoas que com muita facilidade compreendem os conceitos de reencarnação e de evolução espiritual.

Porém há um problema: continuamos olhando as coisas com a mesma ótica material de antes.

Embora tenhamos avançado em nossos conhecimentos, não fomos capazes de remover os véus da ignorância de nossa visão, e isso nos leva a continuar vendo e interpretando tudo pela ótica material. Somos capazes de tirar nota 10 em uma prova de Espiritismo, mas não conseguimos tirar nem nota 5 em uma prova prática sobre o mesmo assunto.

E é justamente isso que atrasa a nossa evolução. Pois quando estamos olhando as coisas pela ótica material, nos deparamos somente com dúvidas, medo, ansiedade, julgamento, egoísmo, orgulho, e tantos outros elementos negativos que nos prejudicam.

Como bem exemplificado no texto, ficamos felizes com coisas que parecem boas inicialmente, mesmo que resultem em desgraça, e ficamos tristes com coisas que parecem ruins inicialmente, mesmo que resultem em um bem maior futuramente.

E com isso, deixamos de ter paz interior justamente porque estamos valorizando as coisas erradas, pelo simples fato de ainda não termos ajustado a nossa visão para uma ótica mais ampla, transcendente, iluminada.

E enquanto focamos toda a nossa atenção e a nossa energia nas coisas erradas, deixamos de observar as coisas boas, que acabam então passando despercebidas.

Vejamos agora mesmo, com tudo o que está acontecendo no mundo, muitas pessoas estão desesperadas porque não podem sair de casa para suas festas, seus passeios, suas interações sociais. Ou porque não estão podendo trabalhar, e estão tendo que priorizar algumas despesas em detrimento de outras.

Sobre todas essas coisas, não há muito o que pode ser feito. O mundo todo está passando por isso. Tentarmos remar contra a correnteza ou apenas deixar o barco seguir seu curso vão levar até o mesmo caminho, com a diferença de que em um dos casos vamos gastar energia à toa.

Mas enquanto isso, o que temos feito de útil?

Tantas pessoas reclamam de não ter tempo para estar com sua família, nem para fazer as coisas que gostam, nem para descansar. E porque não aproveitar o agora?

Há muitas pessoas que estão sem trabalhar, ou trabalhando menos, ou trabalhando em casa (sem gastar tempo com deslocamento) e que com isso dispõem de muito mais tempo livre para fazer todas aquelas coisas que gostariam mas que nunca conseguiam tempo para fazer: passar mais tempo com a família, dar mais atenção para o(a) parceiro(a) e para os filhos, se dedicar a um novo hobby, colocar a lista de leituras em dia, começar a fazer exercícios, ligar para todos aqueles parentes e amigos com os quais acabamos perdendo o contato na correria do dia-a-dia, e assim por diante.

Mas o que fazemos em vez disso? Ficamos derretendo o dia todo na frente da TV e reclamando nas redes sociais.

É então fundamental que tenhamos bem definido o que é realmente importante para nós e em nossas vidas. Para que possamos agir de acordo. Para que possamos agir com coerência.

Precisamos pensar de vez "fora da caixa" e ver as coisas como realmente são, e não seguir a mesma visão viciada e limitada que sustentamos por tanto tempo.

Tudo o que está acontecendo no mundo é uma grande oportunidade de renovação e crescimento, para todos os que quiserem aproveitar essa oportunidade.

Para os demais, não passarão de "férias" inúteis.

Lembremos, amados irmãos, para que nossas vidas andem na direção certa, só depende de nossas decisões. E nossas decisões devem ser seguidas de ações correspondentes para que com todas as engrenagens em sintonia, possamos ser os protagonistas de nossa jornada, e não apenas coadjuvantes.

O melhor dia para começar é sempre hoje!


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