Kardec e a fé raciocinada

Embora tenha saído nos cinemas no início do ano, só assistimos agora ao filme Kardec, em sua chegada ao Netflix.

E embora a maioria de nós conheça a história de Allan Kardec e a história do Espiritismo, em raras vezes dedicamos algum tempo para refletir sobre este tema.

Quem não estava familiarizado com o nascimento da Doutrina Espírita, certamente foi pego de surpresa pelo nível de descrença que o Professor Rivail apresentava ante ao "oculto".

Homem de ciência, autor de vários livros didáticos sobre matemática, física, química, biologia, métodos de ensino, entre outros, Rivail sempre buscou esclarecer todo e qualquer fenômeno através dos seus conhecimentos científicos e métodos racionais.

Porém não era um homem de mente fechada, visto que se dispôs a estudar e analisar diversos temas famosos da época.

E foi a contra-gosto que, convencido por diversas pessoas, foi acompanhar de perto os tais fenômenos de mesas girantes, bem como posteriormente a ação de outras ferramentas como a cesta com caneta e por fim os médiums.

Graças ao seu uso sistemático da racionalidade, Rivail foi capaz de compreender o que acontecia diante de seus olhos. Porém não poderia deixar de aplicar o método científico a tudo que observava, e com sua capacidade ímpar de organizar conhecimentos e criar metodologias, criou o conceito de "Controle Universal do Ensino dos Espíritos".

Segundo este conceito, para que uma informação transmitida por via mediúnica pudesse ser validada como fato (e não como interferência do médium), a mesma informação deveria vir de várias fontes diferentes, valendo-se de vários médiums e inclusive de diferentes mecânicas, como psicofonia, psicografia e até mesmo os fenômenos de efeitos físicos (cesto com caneta).

Usando esse método e suas habilidades intelectuais, Rivail, já então assumindo o pseudônimo de Allan Kardec, foi capaz de validar e organizar todas as informações obtidas em um formato lógico e acessível, produzindo então a primeira edição de O Livro dos Espíritos.

Aquele homem estritamente científico e racional expandia agora seus horizontes rumo ao "oculto". Teria abandonado a ciência e adotado crendices populares?

E aí vemos claramente o nascimento da fé raciocinada, que mais tarde seria abordada em profundidade em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Kardec acreditava porque compreendia, e entendia que só poderia ser daquela forma. Indo além, Kardec sempre procurava dizer não só porque tal resposta é a verdade, mas também porque não poderia ser de outra maneira. Vemos esse exercício por toda a Codificação Espírita, em especial na obra O Céu e o Inferno.

Inclusive a todos os opositores da doutrina, Kardec sempre questionou que apresentassem então o que haveria no lugar dos conceitos apresentados pelo Espiritismo. Nunca obtendo respostas satisfatórias...

E graças a esta visão racional e científica aplicada em toda a codificação, que foi possível que a fé raciocinada chegasse a todos nós. Onde nós abandonamos aquela fé cega que diz "é assim porque é assim" (e que recrimina quem questiona) e adotamos a fé raciocinada que diz "acredito porque entendo. E quanto mais questiono, mais me certifico da minha crença".

"Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade." Allan Kardec

Não é à toa que o Espiritismo foi capaz de converter muitos incrédulos, e ainda hoje continua tocando os corações endurecidos dos homens racionais, pois primeiro conquista os seus cérebros, para então depois conquistá-los por inteiro.

Que possamos todos nós agradecer diariamente por essa doutrina tão abençoada que nos foi dada como ferramenta de adiantamento moral e para que possamos progredir em nossa jornada espiritual com mais facilidade, se assim o desejarmos.




Para quem quiser saber mais sobre a história da Codificação Espírita, este tema está presente na introdução de O Livro dos Espíritos.

E para quem quiser saber mais sobre a história de Allan Kardec, este tema está presente no livro Obras Póstumas.


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