A vingança

Me lembro como se fosse hoje, quando na minha pré-adolescência minha mãe me ensinava: "aquele que se vinga se torna pior do que aquele que o prejudicou".

Eu tinha problemas com a raiva e o desejo de vingança. E na minha mentalidade ainda imatura não conseguia compreender a profundidade deste ensinamento.

Hoje felizmente tudo faz sentido, e vamos iniciar o nosso tema - a vingança - com este questionamento:

- Porquê o vingador se torna pior que o ofensor (ou agressor)?

Analisemos que na maioria das vezes, o ofensor age por impulso, revelando uma falha de seu caráter sobre a qual não possui controle. E por isso é responsável por seus atos.

Entretanto, aquele que deseja se vingar de seu agressor, age quase sempre friamente, calculadamente. Por dias (ou até mesmo meses e anos) analisa qual seria o melhor método para a sua vingança. Imagina diversos cenários, onde testa em pensamento todas as alternativas, até que chega na que mais lhe apraz.

Escolhido o método, estabelece então a melhor data para a execução de seu plano minuciosamente trabalhado.

Só isto já seria suficiente para definirmos o vingador como pior que o ofensor: enquanto o ofensor faz o mal por impulso e descontrole, o vingador faz o mal de maneira fria e pensada. Isso revela que não só tem uma natureza má, como é ciente de sua existência.

Se para um juíz da Terra, a frieza no cometimento de um crime se torna um agravante, que dirá então da perfeita justiça Divina, à qual nenhum fato escapa?

Poderíamos então contra-argumentar nos valendo dos vingadores a sangue-quente, que tomam sua vingança também impulsivamente e no calor do momento. Mais eis aí um elemento chave que não nos permitirá aliviar a sentença do vingador impulsivo:

- O que está por trás da vingança?

A vingança por si só não é causa, é consequência. Consequência de falhas morais que empobrecem o caráter do indivíduo, sobretudo o maior dos males: o orguho.

Todo aquele que tem desejo de vingança, é porque se sente de alguma maneira prejudicado ou diminuído. E somente os orgulhosos padecem desse mal.

Aquele que é humilde permanece sereno mesmo quando submetido a injúrias, pois não se julga melhor do que ninguém. Tal como uma garrafa sem fundo, as ofensas passam através dele, sem ficarem retidas.

Em contrapartida, para o orgulhoso, ao menor indício de que seu brilho foi ofuscado por alguma ofensa, desperta-lhe a ira e o seu desejo de vingar-se a fim de recobrar o seu prestígio. Muitas guerras aconteceram por essa motivação, quando os homens escondiam o seu orgulho sob o escudo da "honra".


- Conclusão:

Tais motivações acima nos levam a perceber o tamanho das imperfeições morais envolvidas em cada desejo (ou ato) de vingança.

E não custa lembrar que qualquer ato feito em prejuízo ao próximo é um ato contrário à lei de amor e caridade, e portanto falha gravíssima para quem o comete.

Espíritas, lembremo-nos de que não devemos desejar a justiça com nossas próprias mãos. A justiça divina não dorme, e todos serão julgados por seus atos, senão nesta encarnação, serão em uma das próximas. Inclusive nós mesmos.

Se desejamos seguir ao Cristo e alcançar a felicidade verdadeira, devemos estar totalmente puros, despidos de quaisquer falhas em nosso caráter. Não deixemos que nossas imperfeições morais nos impeçam de progredir.

Todos os dias temos oportunidade de nos modificar, para amanhã sermos melhores do que hoje, e hoje melhores do que ontem, e assim por diante nesta longa escalada rumo à perfeição que um dia alcançaremos.



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