Orgulho, humildade e perdão

Nenhuma pessoa é totalmente ruim. Todos nós temos um lado bom, por menor que seja.

O que acontece é que as virtudes e os defeitos estão sempre em uma gangorra: quanto mais se tem de um defeito, menos se tem da virtude oposta.

Por exemplo, quem é muito orgulhoso, pouco espaço deixa para a humildade.
Já indo ao contrário, quem é humilde, pouco espaço deixa para o orgulho.

E assim acontece que na maioria das vezes deixamos os nossos defeitos ofuscarem as nossas virtudes. Porque para os defeitos tomarem conta, basta não fazer nada.

As virtudes necessitam de ação. Necessitam de uma força ativa a lhes impulsionar, tal qual plantinhas que precisam de sol, água e nutrientes para se desenvolverem. Mas se não cuidarmos do solo, nem regarmos, nem expormos à quantidade correta de sol, essas plantas morrerão.

O orgulho é a pior das falhas morais, porque ele obscurece a nossa visão, não permitindo que percebamos os nossos defeitos e direcionando a nossa atenção para coisas supérfluas e desnecessárias, gerando uma realidade ilusória.

Nessa realidade ilusória:
- Eu sou perfeito e nada tenho de errado;
- Minha opinião é sempre a mais importante;
- A minha verdade é sempre mais verdadeira que a dos outros;
- A minha imagem é impecável e ai daquele que tentar danificá-la;
- Eu sou tão certo, importante e o melhor em tudo que não sei como ainda não me nomearam rei do mundo.

Enquanto isso, na realidade verdadeira:
- Tenho a minha cota de virtudes e defeitos, tal qual todo mundo;
- Minha opinião tem tanta importância quanto a dos outros;
- Eu possuo um fragmento incompleto da verdade, assim como as outras pessoas;
- A minha imagem não importa nada, porque o que os outros pensam não altera em nada quem eu sou;
- Eu sou só mais uma pessoa no mundo, não sendo mais importante do que ninguém e ninguém sendo mais importante do que eu.

E o pior de tudo é que essa farsa criada pelo orgulho faz com que direcionemos todos os esforços na direção errada, nos preocupando em excesso com o que os outros pensam de nós, criando toda uma imagem superficial sendo que por dentro continuamos infelizes e imperfeitos.

Ok, já entendi. Mas o que isso tem a ver com o perdão?

Lembra quando eu falei que as virtudes e os defeitos disputam o mesmo espaço? E que é fácil permitir que os defeitos ofusquem as virtudes? Pois bem.

Quando se é orgulhoso, torna-se uma tarefa impossível perdoar e pedir perdão.

Ao perdoarmos, estamos abrindo mão do orgulho por dizer que está tudo bem por alguém ter prejudicado a nossa "imagem impecável".

Ao pedirmos perdão, estamos admitindo que erramos, mais uma vez conturbando a nossa "imagem impecável".

Porque não há nada mais racional e inteligente do que carregar uma mágoa por uma vida inteira, só para não aceitar que erramos ou que está tudo bem por alguém ter errado conosco!

Como seremos humildes enquanto o orgulho estiver no topo da gangorra, como se fosse um ídolo em um pódio? Como seremos virtuosos quando nos preocupamos mais em "parecer algo" do que em ser algo?

Como seremos virtuosos ao permitir que as opiniões dos outros e as convenções da sociedade modelem nossa vida, em vez de nosso próprio caráter?

Como seremos felizes com tantas preocupações sobre o que os outros acham ou deixam de achar?

Como seremos felizes arrastando correntes por causa de mágoas que já nem lembramos a origem?

Como teremos paz de espírito se nossa vida é repleta de ansiedade, angústia e estresse?

Não há como sermos felizes enquanto nossos defeitos obscurecerem nossas virtudes.
Não há como sermos virtuosos sem nos colocarmos em ação.

O primeiro passo para as virtudes é a derrota dos defeitos. Porque é somente quanto eles descem, que as virtudes podem crescer e elevarem-se.

 Porque é só com as virtudes que perceberemos que não se trata de sermos melhores do que os outros. Se trata de sermos melhores do que nós mesmos.

E apesar de isso colocar uma responsabilidade em nossos ombros, também traz uma paz enorme quando a ansiedade, a angústia, o estresse as frustrações causadas pelo orgulho vão embora.

Perdoar então será uma tarefa muito fácil, porque na maioria das vezes nem nos sentiremos ofendidos.

Que tal olharmos para nós mesmos com sinceridade?

Nunca é tarde para começar.



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