Perfeição divina e perfeição do espírito - São a mesma coisa?

Hoje trazemos um tema que causa confusão nos iniciantes na Doutrina Espírita.

Frenquentemente falamos sobre perfeição, e é comum que se confunda a perfeição divina e a perfeição do espírito.


Vejamos então as informações que Kardec e os espíritos nos trazem sobre a perfeição divina em O Livro dos Espíritos:


"III – Atributos da Divindade

10. O homem pode compreender a natureza íntima de Deus?

— Não. Falta-lhe, para tanto, um sentido.

11. Será um dia permitido ao homem compreender o mistério da Divindade?

— Quando o seu espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, tiver se aproximado dela, então a verá e compreenderá.

Comentário de Kardec: A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza intima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, á medida que o seu senso moral se desenvolve, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas e ele faz então, a seu respeito, uma idéia mais justa e mais conforme com a boa razão embora sempre incompleta.

12. Se não podemos compreender a natureza íntima de Deus, podemos ter uma idéia de algumas de suas perfeições?

— Sim, de algumas. O homem se compreende melhor, à medida que se eleva sobre a matéria; ele as entrevê pelo pensamento.

13. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, não temos uma idéia completa de seus atributos?

— Do vosso ponto de vista, sim, porque acreditais abranger tudo, mas ficai sabendo que há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente, e para as quais a vossa linguagem, limitada às vossas idéias e às vossas sensações, não dispõe de expressões. A razão vos diz que Deus deve ter essas perfeições em grau supremo, pois, se tivesse uma de menos, ou que não fosse em grau infinito, não seria superior a tudo, e, por conseguinte, não seria Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus não deve estar sujeito a vicissitudes e não pode ter nenhuma das imperfeições que a imaginação é capaz de conceber.

Comentário de Kardec: Deus é ETERNO. Se ele tivesse tido um começo, teria saído do nada. ou. então, teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.

É IMUTÁVEL. Se ele estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.

É IMATERIAL. Quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, pois de outra forma ele não seria imutável, estando sujeito às transformações da matéria.

É ÚNICO. Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de vistas nem de poder na organização do Universo.

É TODO-PODEROSO. Porque é único. Se não tivesse o poder soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto ele, que assim não teria feito todas as coisas. E aquelas que ele não tivesse feito seriam obras de um outro Deus.

É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores como nas maiores coisas, e esta sabedoria não nos permite duvidar da sua justiça, nem da sua bondade.
" (destaques nossos)


E vejamos agora o diz o mesmo livro sobre a perfeição dos espíritos:


"96. Os Espíritos são iguais, ou existe entre eles alguma hierarquia?

 — São de diferentes ordens, segundo o grau de perfeição a que tenham chegado.

 97. Há um número determinado de ordens ou de graus de perfeição entre os Espíritos?

 — É ilimitado o número dessas ordens, pois não há entre elas uma linha de demarcação traçada como barreira, de maneira que se podem multiplicar ou restringir as divisões, à vontade. Não obstante, se considerarmos os caracteres gerais, poderemos reduzi-las a três ordens principais.

Comentário de Kardec:  Na primeira ordem, podemos colocar os que já chegaram à perfeição: os Espíritos puros. Na segunda, estão os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é a sua preocupação. Na terceira, os que estão ainda na base da escala: os Espíritos imperfeitos, que se caracterizam pela ignorância, o desejo do mal e todas as mais paixões que lhes retardam o desenvolvimento. 

[...]

PRIMEIRA ORDEM: ESPÍRITOS PUROS

 112. Caracteres Gerais. Nenhuma influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, em relação aos Espíritos das outras ordens.

 113. Primeira classe. Classe Única — Percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Havendo atingido a soma de perfeições de que é suscetível a criatura, não têm mais provas nem expiações a sofrer. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, que desfrutam no seio de Deus.

 Gozam de uma felicidade inalterável, porque não estão sujeitos nem às necessidades nem às vicissitudes da vida material, mas essa felicidade não é a de uma ociosidade monótona, vivida em contemplação perpétua. São os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam, para a manutenção da harmonia universal. Dirigem a todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudam-nos a se aperfeiçoarem e determinam as suas missões. Assistir os homens nas suas angústias, incitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os distanciam da felicidade suprema é para eles uma ocupação agradável. São, às vezes, designados pêlos nomes de anjos, arcanjos ou serafins. [...]
" (destaques nossos)


Com isto, podemos claramente entender que a perfeição divina é absoluta. Deus é perfeito em todas as perfeições, senão não poderia ser ser Deus.

Já os espíritos podem chegar ao nível máximo de perfeição possível às criaturas, como fica claro na frase "Havendo atingido a soma de perfeições de que é suscetível a criatura [...]".

Ou seja, mesmo os espíritos que alcançaram o nível máximo de perfeição possível aos espíritos, ainda assim são inferiores a Deus. Pois apesar de estarem no seu grau máximo de perfeição moral, não são perfeitos em todas as perfeições como Deus, senão seriam também onipotentes, onipresentes e oniscientes.


E isso fica muito claro em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 17, Sede Perfeitos:


"2 – Desde que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta máxima: “Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito”, tomada ao pé da letra, faria supor a possibilidade de atingirmos a perfeição absoluta. Se fosse dado à criatura ser tão perfeita quanto o seu próprio Criador, ela o igualaria, o que é inadmissível. Mas os homens aos quais Jesus se dirigia não teriam compreendido essa questão. Ele se limitou, portanto, a lhes apresentar um modelo e dizer que se esforçassem para atingi-lo.

Devemos, pois, entender, por essas palavras, a perfeição relativa de que a humanidade é suscetível, e que mais pode aproximá-la da Divindade. Mas em que consiste essa perfeição? Jesus mesmo o disse: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam”. Com isso, mostra que a essência da perfeição é a caridade, na sua mais ampla acepção, porque ela implica a prática de todas as outras virtudes.
" (destaques nossos)


 Portanto, para resumir:

- A perfeição divina é absoluta, perfeita em todas as perfeições.

- A perfeição do espírito é relativa, perfeita em moralidade e sendo o ápice da evolução do espírito.


Frequentemente citamos aqui no blog a perfeição do espírito, e é de vital importância que este tema esteja esclarecido, a fim de evitar confusões sobre o assunto.

Você ficou com alguma dúvida sobre este ou outro tema? Deixe suas dúvidas nos comentários.

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