Porquê ainda alimentamos o orgulho?

Depois do nosso post sobre o egoísmo, vem agora o momento de falar da segunda maior falha moral e que frequentemente anda de mãos dadas com o egoísmo: o orgulho.

Normalmente, o orgulho e o egoísmo andam juntos, pois um alimenta o outro.

O egoísmo nos dá essa sensação de que nós estamos no centro do universo, e tudo deve girar em torno de nós e dos nossos interesses.

Já o orgulho, por sua vez, nos faz imaginar que somos muito mais importantes no mundo do que realmente somos.

O orgulho é a falha moral mais grave de todas, porque nos impede de ver todas as falhas morais que possuímos. Ora, se o orgulhoso está sempre certo, como poderia possuir falhas?

E então, possuído por essa auto-ilusão de perfeição, o orgulhoso projeta um personagem que reflete o que exatamente ele gostaria de ser. Como se não bastasse, passa então a viver como se fosse esse personagem criado.

É por isso que o orgulhoso acredita mesmo estar sempre certo, acredita mesmo que ele não tem falhas, fica pasmo por não ser venerado pelas pessoas, de tão maravilhoso que ele é.

Porém em todos esses casos está associando ao personagem imaginário que ele criou, e não a quem ele realmente é.

Tomados pelo orgulho, somos incapazes de ver o quanto estamos errados, o quanto mal estamos fazendo para nós mesmos e para os outros.

- Se o orgulho é tão ruim, porque Deus não me ajuda?

Deus ajuda o orgulhoso. Se tem alguém que Deus ajuda, esse alguém é o orgulhoso. Porém Deus ajuda da maneira necessária para que ele abra seus olhos, e não ajuda na realização de seus objetivos ilusórios.

Cedo ou tarde chega o dia em que Deus derruba o orgulhoso do pedestal em que ele mesmo se colocou. E então chega o dia em que aqueles que pensam estar voando nas esferas mais elevadas da perfeição, são jogados na lama da realidade de suas falhas morais.

Felizes de nós quando conseguimos aproveitar este momento para abrir os nossos olhos à realidade, e então em vez de maldizer a Deus, o agradeceremos fervorosamente.

"[...] Orgulhosos! Que fostes, antes de serdes nobres e poderosos? Talvez mais humildes que o último de vossos servos. Curvai, portanto, vossas frontes altivas, que Deus as pode rebaixar, no momento mesmo em que as elevais mais alto. Todos os homens são iguais na balança divina; somente as virtudes os distinguem aos olhos de Deus. Todos os Espíritos são da mesma essência, e todos os corpos foram feitos da mesma massa. Vossos títulos e vossos nomes em nada a modificam; ficam no túmulo; não são eles que dão a felicidade prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são os seus títulos de nobreza. [...]"

"[...] Quando o orgulho atinge o seu extremo, é indício de uma próxima queda, pois Deus pune sempre os soberbos. Se às vezes os deixa subir, é para lhes dar tempo de refletir e de emendar-se, sob os golpes que, de tempos a tempos, desfere no seu orgulho como advertência. Entretanto, em vez de se humilharem, eles se revoltam. Então, quando a medida está cheia. Ele a vira de repente, e a queda é tanto mais terrível, quanto mais alto tiverem se elevado. [...]"


- Porquê então ainda alimentamos o orgulho?

Somente porque desejamos. É muito cômodo nos projetar em um personagem fictício e imaculado, fugindo de nossa realidade imperfeita e cheia de defeitos.

Tomados por essa falha moral, temos satisfação em nos sentir acima de nossos irmãos, muitas vezes tendo um prazer imensurável ao humilhar aquele que nos parece inferior, enquanto regozijamos em nossa "superioridade".

Mas até quando teremos satisfação em viver nesse mundo da fantasia? Até quando teremos prazer em humilhar ao próximo? Por acaso somos nós melhores que ele? Muito pelo contrário, na maior parte das vezes aquele que o orgulhoso pensa humilhar é muito mais virtuoso e honrado do que ele próprio.

"[...] O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males. Dedicai-vos, pois, à tarefa de destruí-lo, se não quiserdes perpetuar as suas funestas conseqüências. Um só meio tendes para isso, mas infalível: tomai a lei do Cristo por regra invariável de vossa conduta, essa lei que haveis rejeitado ou falseado na sua interpretação.

Por que tendes em tão grande estima o que brilha e encanta os vossos olhos, em lugar do que vos toca o coração? Por que o vício que se desenvolve na opulência é o objeto da vossa reverência, enquanto só tendes um olhar de desdém para o verdadeiro mérito, que se oculta na obscuridade? Que um rico libertino, perdido de corpo e alma, se apresente em qualquer lugar, e todas as portas lhe são abertas, todas as honras lhe são dispensadas, enquanto dificilmente se concede um gesto de proteção ao homem de bem que vive do seu trabalho. Quando a consideração que se dispensa às pessoas é medida pelo peso do ouro que elas possuem, ou pelo nome que trazem, que interesse podem ter elas em se corrigem de seu defeito?

Bem diferente seria, entretanto, se o vício doirado fosse fustigado pela opinião pública, como o é o vício andrajoso. Mas o orgulho é indulgente para tudo quanto o agrada. Século de concupiscência e de dinheiro, dizeis vós. Sem dúvida; mas por que deixastes as necessidades materiais se sobreporem ao bom-senso e à razão? Por que cada qual deseja se elevar sobre o seu irmão? [...]
"

É hora, amados irmãos, de nos conscientizarmos.

Se pensamos não possuir nenhum defeito, aí está o atestado do orgulho.

Se pensamos possuir apenas pequenos e leves defeitos, aí está o atestado do orgulho.

Vamos admitir que somos seres falíveis, repletos de falhas morais em variados níveis de gravidade, e vamos fortalecer em nossas mentes o pensamento de que todos os filhos de Deus são iguais.

Não importa a classe social, a etnia, a opção sexual, nem qualquer outro critério que se possa pensar. Todos somos espíritos criados simples e ignorantes por Deus, para que possamos através de nossas experiências progredir rumo à perfeição.

Porém se hoje habitamos nós este planeta de provas e expiações, tenhamos certeza: ainda há muito trabalho por ser feito.

Vejamos o outro com igualdade.

Tratemos o outro com igualdade.

Façamos ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito, e não façamos ao próximo aquilo que não gostaríamos que nos fizessem.

Eis o mandamento, e eis a fórmula para que vençamos essa terrível falha moral.

Que Deus nosso Pai nos ilumine e abençoe neste nobre propósito, e com a Sua bênção e a nossa dedicação, certamente triunfaremos.

Que assim seja!



Comentários

Posts mais visitados

O óbolo da viúva - a verdadeira caridade

Benefícios pagos com a ingratidão

10 coisas que aprendi com o Espiritismo

A felicidade que a prece proporciona

Convidar aos pobres e estropiados

Provas voluntárias e a verdadeira penitência

O perdão e a indulgência

Os tormentos voluntários

Pecado por pensamentos

Reflexão: O que realmente é importante?