Já iniciei minha jornada no caminho da mudança interior. E agora?

Falamos tanto sobre o início da jornada, que pouco se fala sobre a jornada em si.

Finalmente criamos a coragem para começar a abandonar o velho-eu e cultivar um novo-eu, através do desenvolvimento das virtudes e do trabalho de extinção dos vícios e das falhas morais.

Já demos o primeiro passo. E agora, o que nos espera?

Analisemos agora o que encontraremos pelo caminho, e como lidar com cada coisa:

- Provas, testes e expiações

Aquilo que acontece com maior frequência, e quase sempre acaba nos pegando de jeito: as provas e testes.

Assim como na escola, para validar se absorvemos os novos conhecimentos, somos submetidos a testes e provas, na nossa jornada de auto-aprimoramento a espiritualidade superior colocará em nosso caminho alguns testes para verificar se estamos aptos em nossas virtudes, ou se delas possuímos somente as aparências.

Às vezes, acordamos felizes e motivados no nosso caminho de melhoramento, e quando menos esperamos, lá vem aquele teste caindo como uma bomba, nos testando justamente nas nossas maiores falhas morais.

Para o apegado, pode ser um prejuízo material. Para o viciado, pode ser um chamado de seus vícios. Para o irritado tudo dará errado. Para o controlador, tudo fugirá de seu controle. O orgulhoso será humilhado. O egoísta terá uma oportunidade de deixar de olhar para o seu umbigo e fazer o bem. E assim por diante, cada qual sendo apertado no seu ponto mais frágil.

E são nesses momentos que nossas virtudes serão testadas, bem como a nossa determinação em seguir o caminho do bem. Se somos orgulhosos, poderemos ser expostos à uma situação onde estaremos visivelmente errados, e aí teremos duas opções: fazer o clássico tumulto para tentar reverter a situação e botar a culpa no outro, ou respirar fundo, e usando todo o nosso desejo de sermos melhores, dizer: "É verdade, estou mesmo errado. Me perdoe. O que posso fazer para reparar esse erro?"

A diferença básica entre as provas e as expiações é que as provas costumar ser mais breves e tem o caráter de nos avaliar, enquanto as expiações são referentes ao mal que fizemos (ou ao bem que deixamos de fazer) e exigem uma reparação de nossa parte. Por isso, normalmente as expiações são longas e pesadas, e quando essas oportunidades de reparar esse mal são desperdiçadas, às vezes somente em outra encarnação teremos a mesma oportunidade.

Infelizmente aqui que muitas pessoas sucumbem e desistem da sua jornada de mudança interior, com a seguinte mentalidade: "Me dediquei ao bem, a me melhorar e a ajudar ao próximo, e Deus em vez de me ajudar, me derrubou!". Ora, se devemos algo, cedo ou tarde seremos cobrados. De quem é a culpa, de quem deve ou de quem cobra?

Devemos ter em mente que para aqueles que estão no caminho do bem, muitas expiações são atenuadas, devido ao bom crédito daquele que está verdadeiramente tentando ser melhor. Por isso, amados irmãos, se uma pedra aparecer no caminho, usemo-a como degrau.


- Fraqueza moral e saudade do velho-eu

Seguindo a linha de raciocínio do item anterior, podemos ver claramente as ocasiões onde nos deixamos levar pela nossa fraqueza moral.

Quando somos testados, ou quando somos submetidos à expiações, nossa força moral, ou seja, nosso desejo de perseverar no caminho do bem, é testada. E infelizmente gostamos de ser "molengas" e nos dar por vencidos na primeira dificuldade do caminho.

Por isso, precisamos estar bem conscientes de porquê começamos essa jornada, e essa motivação deve estar sempre bem clara para nós, para que mesmo nos momentos de adversidade nos sintamos fortalecidos e possamos com convicção dizer assim como Jó: "Senhor, vós me destes, vós me tirastes; que a Vossa vontade seja feita".

Mas também há momentos em que, disfarçada de fraqueza moral, está a saudade do velho-eu: dos antigos hábitos, vícios e paixões terrenas. Todavia, assim como no caso da fraqueza moral, a saudade do velho-eu só encontra terreno fértil naqueles corações que não estão determinados com convicção no caminho do bem.


- Sentir-se deslocado

À medida que avançamos mais e mais na nossa transformação interior, é natural que nos sintamos deslocados.

No universo, impera a lei de atração, onde tudo o que possui afinidade se atrai entre si.

Ocorre então aquele momento onde já não nos sentimos atraídos pelas companhias de antes. Já não temos mais os mesmos assuntos e os mesmos interesses. Enquanto os nossos amigos ficam empolgados para irem em festas beberem todas e ficarem bem loucos, nós pensamos em fazer outras coisas. Diversas outras coisas. E eles sempre com o mesmo objetivo. Sempre que lhes encontramos, o assunto é o mesmo. E começamos a perceber que não temos mais tantas coisas em comum, como antes.

E então amizades de uma vida inteira acabam enfraquecendo-se, pois já não há mais nada de afinidade entre essas pessoas, ou seja, não há nada segurando essa relação.

Isso cedo ou tarde nos trará aquela sensação de deslocamento, onde sentimos que não pertencemos mais ao grupo do velho-eu, e também não nos sentimos aptos ainda a estar entre o grupo do novo-eu. Pensamos estar sozinhos no mundo.

Porém isso não passa de uma ilusão nossa, pois é nesse momento que estamos no grupo dos trabalhadores, aqueles que estão todos os dias se esforçando para serem pessoas melhores, lutando contra suas falhas morais e tentando ao máximo exercer suas virtudes. Basta que façamos novas amizades com pessoas que, assim como nós, estão no meio da jornada. E há muitas!

E quando finalmente nos encontramos com pessoas assim, nos sentimos muito fortalecidos, pois além de não estarmos sozinhos nessa jornada, todos nós passamos pelas mesmas coisas, temos as mesmas dificuldades, e precisamos das mesmas soluções. Melhor ainda, podemos nos ajudar mutuamente para todos progredirem, e assim juntos estaremos fortalecidos.


- A gangorra das falhas morais

 Por último, reservei o espaço para este que é um ponto muito importante tanto para os que estão no início de sua jornada, quanto para aqueles que já estão a anos ou décadas nesse caminho.

Quando iniciamos nossa mudança interior, atacamos com todas as nossas forças aquelas que no momento são nossas falhas morais mais graves. E essa é uma ótima estratégia, pois é impossível resolver todas as falhas morais ao mesmo tempo.

Porém à medida que o tempo passa e vamos controlando aquelas falhas morais que antes eram crônicas e agora estão controladas, outras falhas morais serão as falhas morais mais graves do momento.

Se antes, por exemplo, precisávamos combater o orgulho e o egoísmo, e com o passar do tempo conseguimos colocar essas falhas morais sob controle, perceberemos que então, por exemplo, nossas falhas morais mais graves serão a irritabilidade e o apego. E após controlar essas, outras tomarão a dianteira, fazendo uma espécie de rodízio até que tratemos todas elas.

Mas isso não significa que estamos regredindo. Isso significa apenas uma mudança de foco, onde precisamos estar atentos para periodicamente redirecionar os nossos esforços, sem com isso ficarmos negligentes com aquelas falhas morais que já estão sob controle.

E assim como um carro, que quando consertamos a suspensão percebemos o problema nos freios, e quando consertamos os freios percebemos o problema na embreagem, e assim por diante, mas o carro não está piorando, ele está ficando com a sua manutenção "em dia". Do mesmo modo acontece com as nossas falhas morais.


- Conclusão

Precisamos ter noção de que o caminho da mudança interior é um caminho que exige de nós sempre o nosso melhor. Por isso, não podemos esperar que seja uma viagem sem turbulências. Há muitos momentos nos quais precisamos ser sacudidos.

E assim como para limpar algo que está imundo precisamos de mangueiras, escovas e fazer força, para nos purificarmos espiritualmente também precisaremos pegar no pesado.

Mas não devemos ver isso como um fardo. Pois as recompensas dessa jornada são muitíssimo recompensadoras. A cada pequeno esforço ganhamos muito mais em retorno.

Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, nos recompensa abundantemente pelos nossos esforços. E é então nesse momento que perceberemos que ele esteve o tempo todo com os braços abertos nos aguardando. Fomos nós que nunca quisermos ir na Sua direção.


Que este texto possa ajudar a todos os irmãos que se encontram nessa jornada, para sempre perseverarem e nunca desistirem nem se deixarem abalar com as dificuldades.

E que com as bênçãos do Pai, possamos todos nós vencer nessa jornada!

Que assim seja!


 

Comentários

Posts mais visitados

O óbolo da viúva - a verdadeira caridade

Benefícios pagos com a ingratidão

10 coisas que aprendi com o Espiritismo

A felicidade que a prece proporciona

Convidar aos pobres e estropiados

O perdão e a indulgência

Provas voluntárias e a verdadeira penitência

Os tormentos voluntários

Pecado por pensamentos

Reflexão: O que realmente é importante?