Diferentes ordens de espíritos - A escala espírita

Seguindo o tema iniciado no último sábado, hoje falaremos sobre a escala espírita criada por Kardec e sobre os critérios usados na sua construção.

"VI – Escala Espírita

100. Observações preliminares. A classificação dos Espíritos funda-se no seu grau de desenvolvimento, nas qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram. Esta classificação nada tem de absoluta: nenhuma categoria apresenta caráter bem definido, a não ser no conjunto: de um grau a outro, a transição é insensível, pois, nos limites, as diferenças se apagam, como nos reinos da Natureza, nas cores do arco-íris ou ainda nos diferentes períodos da vida humana. Pode-se, portanto, formar um número maior ou menor de classes, de acordo com a maneira por que se considerar o assunto. Acontece nisto como em todos os sistemas de classificação científica: os sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a inteligência; mas, seja como for, nada alteram quanto à substância da Ciência. Os Espíritos, interpelados sobre isto, puderam, pois, variar quanto ao número das categorias, sem maiores conseqüências. Houve quem se apegasse a esta contradição aparente, sem refletir que eles não dão nenhuma importância ao que é puramente convencional. Para eles, o pensamento é tudo: deixam-nos os problemas da forma, da escolha dos termos, das classificações, em uma palavra, dos sistemas.

Ajuntemos ainda esta consideração que jamais se deve perder de vista: entre os Espíritos, como entre os homens, há os que são muito ignorantes, e nunca será demais estarmos prevenidos contra a tendência a crer que eles tudo sabem, por serem Espíritos. Toda classificação exige método, análise e conhecimento aprofundado do assunto. Ora, no mundo dos Espíritos, os que têm conhecimentos limitados são, como os ignorantes deste mundo, incapazes de apreender um conjunto e formular um sistema; eles não conhecem ou não compreendem senão imperfeitamente qualquer classificação; para eles, todos os Espíritos que lhes sejam superiores são da primeira ordem, pois não podem apreciar as suas diferenças de saber, de capacidade e de moralidade, como entre nós faria um homem rude, em relação aos homens ilustrados. E aqueles mesmos que sejam incapazes, podem variar nos detalhes, segundo os seus pontos de vista, sobretudo quando uma divisão nada tem de absoluto. Lineu, Jussieu Tournefort tiveram cada qual o seu método, e a botânica não se alterou por isso. É que eles não inventaram nem as plantas nem os seus caracteres, mas apenas observaram as analogias, segundo as quais formaram os grupos e as classes. Foi assim que procedemos. Nós também não inventamos os Espíritos nem os seus caracteres. Vimos e observamos; julgamos pelas suas palavras e os seus atos, e depois os classificamos pelas semelhanças, baseando-nos nos dados que eles forneceram.

Os Espíritos admitem, geralmente, três categorias principais ou três grandes divisões. Na última, aquela que se encontra na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal. Os da segunda se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo de praticar o bem: são os Espíritos bons. A primeira, enfim, compreende os Espíritos puros, que atingiram o supremo grau de perfeição.

Esta divisão nos parece perfeitamente racional e apresenta caracteres bem definidos; não nos resta senão destacar, por um número suficiente de subdivisões, as nuanças principais do conjunto. Foi o que fizemos, com o concurso dos Espíritos, cujas benevolentes instruções jamais nos faltaram.

Com a ajuda deste quadro, será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos com os quais podemos entrar em relação e, por conseguinte, o grau de confiança e de estima que eles merecem. Esta é de alguma maneira, a chave da Ciência espírita, pois só ela pode explicar-nos as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as irregularidades intelectuais e morais dos Espíritos. Observaremos, entretanto, que os Espíritos não pertencem para sempre e exclusivamente a esta ou aquela classe; o seu progresso se realiza gradualmente, e, como muitas vezes se efetua mais num sentido que noutro, eles podem reunir as características de varias categorias, o que é fácil apreciar por sua linguagem e seus atos.
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Kardec em seus estudos desenvolveu um método de classificação dos espíritos, separando-os em dez categorias e três ordens distintas.

Mas essa classificação não tem por objetivo rotular os espíritos: tem finalidade didática, para que possamos melhor compreender a progressão dos espíritos na jornada rumo à perfeição.

E essa jornada só é possível graças às sucessivas reencarnações, onde pouco a pouco o espírito pode progredir em inteligência e moralidade, segundo a sua vontade (pois possui livre arbítrio).

Quando Deus cria os espíritos, simples e ignorantes, não os cria nem bons e nem maus: são neutros. A partir de suas escolhas é que vão tomando determinado rumo, seja ele na bondade ou na maldade.

Mas como poderia Deus deixar os seus filhos entregues à própria sorte?

Na verdade, não deixa. Por isso o homem tem  o instinto. O instinto lhe guia em todas as suas necessidades básicas e de sobrevivência. Assim, com a experiência que vai adquirindo, vai gradualmente desenvolvendo a sua inteligência e o seu poder de decisão, tal qual uma criança que encosta em algo quente e queima-se, e então aprende que algumas coisas podem machucá-lo.

Deus portanto não julga o espírito que mal sabe o que faz: o grau de responsabilidade por seus atos é proporcial à sua inteligência.

E o homem não conta somente com o instinto. Possui também a consciência, que lhe serve de guia quando precisa tomar decisões. Quem de nós nunca ficou com a consciência pesadíssima após tomar uma má decisão? Eis o guia infalível para o homem, quando dá ouvidos à sua consciência.

E por fim, conta o homem com o auxílio de seu espírito protetor (ou anjo guardião), que faz todo o possível para intuir-lhe no bom caminho. Infelizmente muitas vezes o homem, tomado de orgulho, deixa de dar ouvidos ao seu amoroso protetor e incide no erro.

Jamais podemos dizer então, que Deus cria o homem para o sofrimento. Deus dá ao homem as ferramentas que necessita para a sua evolução: cabe a ele a escolha de usar ou não.

Se um fazendeiro desse uma pá ao seu funcionário, para que cavasse um buraco, e se o operário cavasse o buraco com as próprias mãos e com isso se machucasse, a culpa seria do fazendeiro que lhe deu a pá ou do operário que optou em não usar a pá?

Reflitamos e perceberemos que o homem é sempre o artífice de seu destino, seja ele bom ou ruim.


Veja as continuações:


Espíritos imperfeitos
Bons espíritos
Espíritos puros
Progressão dos espíritos

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