A diferença entre a satisfação e a felicidade

Vivemos em um mundo material, repleto de coisas materiais com as quais podemos interagir e nos distrair.

Erroneamente, atribuimos a essas coisas materiais um status de portadoras da felicidade. E isso nos causa sofrimento, pois nossa expectativa não é correspondida.

Analisemos  agora o quadro das coisas que mais atribuimos como portadoras da felicidade e vejamos seu real efeito:

- Álcool e demais substâncias entorpecentes:

Por mais que exista uma analogia entre beber e ser feliz, alegre e estar de bem com a vida, estas substâncias não fazem mais do que promover um efeito temporário de anestesia mental, euforia e satisfação.

Uma vez que acabe o efeito físico, além da "ressaca" característica, promovem um efeito de depressão, visto que o indivíduo passa por esse estado de euforia onde tudo é divertido e retorna para a realidade, que agora parece ainda mais difícil do que antes. No intuito de permanecer "no mundo de Bobby" para sempre, o indivíduo desenvolve então o vício.

- Sexo desenfreado: 

Por mais que o sexo seja algo saudável e necessário para a saúde humana, quando colocado como meta para a felicidade, acaba tornando-se uma obsessão. O indivíduo passa a pensar 24 horas por dia em sexo, sempre contando as horas para a próxima relação. A relação por si só é deveras prazeirosa, porém o efeito de satisfação que promove dura poucas horas.

Então o indivíduo, já obcecado com o tema, deseja repetir o ato tanto quanto possível, gerando um vício. Com o tempo, a relação sexual vai se tornando monótona, e o indivíduo vai em busca de formas mais intensas, a fim de lhe promover novamente a satisfação que sentia antes. Assim gradualmente vai desenvolvendo distúrbios cada vez mais graves à medida que avança rumo aos extremos.

- Comida:

Ah, o simples prazer da vida! Esse é um dos mais difíceis de evitar, visto que não podemos ficar sem comer. A comida promove uma satisfação imediata, que também dura poucas horas. Tantos sabores maravilhosos! Como resistir?

Porém quando associamos nossas emoções com o ato de comer, vamos desenvolvendo uma gula que se potencializa cada vez que estamos tristes, deprimidos, irritados ou estressados. E à medida que avançamos nessa solução fácil, nosso sistema digestivo vai dilatando e aumentando a sua capacidade, para que possamos ingerir cada vez mais. Desta forma, não somente gerando um vício, como também intoxicando nossos corpos e sobrecarregando o sistema digestivo.

- Dinheiro e poder:

Quem nunca sonhou em ser milionário? Quem nunca imaginou o que faria se ganhasse na loteria? O dinheiro é um sério concorrente quando se pensa em atribuir a felicidade à algo. Como não ser feliz em uma mansão numa ilha paradisíaca, com diversos funcionários, tendo tudo o que desejamos ao alcance de um estalar de dedos? Quem poderia ser infeliz assim?

Mas ainda que o dinheiro possa proporcionar muito conforto e muita satisfação, toda essa satisfação é temporária. Precisamos continuar comprando para continuarmos satisfeitos. Uma vez que as compras tornam-se repetidas após a décima casa, o trigésimo carro, a centésima peça de roupa, tudo vai perdendo o brilho. E então o dinheiro vai servindo de facilitador para os demais itens dessa lista.

E se o dinheiro repentinamente acabar? Melhor nem pensar...

(o mesmo quadro aplica-se ao poder)

- Reflexão:

Por mais que pensemos que os itens dessa lista sejam os portadores da felicidade, quando analisamos friamente vemos que eles não fazem mais do que nos proporcionar uma satisfação temporária. Quando confundimos essa satisfação temporária com felicidade, entramos em uma conduta viciada que só nos prejudica cada vez mais. Saturamos nossas mentes pensando somente na próxima dose, na próxima transa, na próxima comida e na próxima compra.

Isso quer dizer que devemos nos abster de tudo isso?

Não. Existe uma diferença entre o que é saudável e o que é excesso.

Ainda que não recomendemos o uso de nenhuma substância entorpecente (nem mesmo álcool e cigarro), no que tange ao sexo e à comida, devemos nos manter nos limites do que é saudável. Devemos sempre lembrar que são fontes de satisfação temporária, e não de felicidade.

O mesmo quadro estende-se ao dinheiro: não precisamos nos abster de adquirir as coisas e de viver com conforto, embora seja justo repensar que um pouco do nosso supérfluo pode beneficiar o nosso próximo que não tem nada. Ainda assim, lembremos mais uma vez que tudo o que o dinheiro proporciona é uma satisfação temporária, e não a felicidade.

- Mas então, onde está a felicidade?

A felicidade é um conceito permanente, constante. Diferentemente da alegria, que tem um caráter mais momentâneo, a felicidade não passa por altos e baixos, nem mesmo perde seu efeito após algum tempo.

E sendo permanente, nunca será alcançada por meios impermantes, como os acima citados.

Imagine que você está em um lugar comum, o centro de alguma grande cidade. E você está sentindo-se tão bem consigo mesmo que mesmo que comesse uma comida gostosa, ou fizesse um sexo maravilhoso, ou que ainda achasse uma mala cheia de dinheiro, isso não lhe faria mais feliz. Lhe traria satisfação, com certeza, mas não lhe faria mais feliz.

Parece irreal não?

Mas isso é real e só pode ser alcançado através da paz interior. A paz interior decorre de um trabalho contínuo de melhoramento interior, onde o indivíduo vai eliminando os seus defeitos e aumentando as suas virtudes. Com isso, eliminando também as causas de seus sofrimentos, por consequência.

Nós somos os causadores de nossos próprios sofrimentos, seja através das nossas ações diretas ou seja através da maneira como encaramos os problemas da vida.

O fato é que quem elimina os seus defeitos e cultiva suas virtudes, passa a:

1 - Não criar mais situações problemáticas para a sua vida.
2 - Enfrentar melhor os problemas que a vida apresenta.
3 - Entender melhor quem é e qual o seu papel no mundo.
4 - Entender melhor porque sofria e como evitar causar mais sofrimento.

Gerando assim um ciclo contínuo, onde a cada vez o processo todo torna-se cada vez mais eficiente.

Com isso, gradualmente a paz interior surge, pois por mais que existam conflitos do lado de fora, por dentro de nós tudo estará calmo e em paz. Com essa paz interior, tudo se torna mais fácil e mais simples, pois sem aquele turbilhão de emoções podemos ver tudo com clareza.

E é nessa paz interior, que uma vez alcançada se torna permante, é que reside a chave da felicidade. Felicidade essa que não pode ser alcançada enquanto não desenvolvermos todas as virtudes que lhe servem de pilar.

- Conclusão:

Às vezes dedicamos nossas vidas inteiras procurando pela felicidade onde ela não está. Para não perder a viagem, ficamos com a satisfação que encontramos pelo caminho. Como não sabemos onde mais procurar, nos mantemos nesse caminho pois foi o melhor que encontramos.

Ironicamente, a felicidade está dentro de nós, no único lugar onde esquecemos de procurar. Pensamos que auto-conhecimento e virtudes são coisas para monges e ignoramos completamente esta opção, sem nem mesmo experimentá-la.

Mas que possamos todos nós hoje, possuindo este conhecimento, concentramos nossos esforços naquilo que realmente importa, naquilo que realmente nos trará um grande benefício e a nossa tão procurada felicidade: o desenvolvimento interior.

De hoje em diante, sejamos sinceros com nós mesmos. Paremos de nos iludir com as satisfações momentâneas. Nada de duradouro dali sairá.

Busquemos a paz interior, pois ela sim é o caminho para a felicidade verdadeira, plena, sólida, permanente.

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Um grande abraço à todos os leitores e que essas palavras possam tocar no coração e na mente de todos vocês!

Não importa onde você esteja, ficamos sempre muito felizes quando você vem aqui ler os conteúdos deste blog, que é feito de estudantes para estudantes.

Que possamos juntos trilhar essa caminhada e no futuro celebrar a nossa vitória sobre o velho-eu.

Paz e luz a todos.


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