Estudo das leis morais - Parte 1: A lei natural

Hoje iniciamos o estudo das leis morais, descritas na terceira parte de O Livro dos Espíritos. Essas leis dão a direção correta para a moralidade do indivíduo, e aquele que agir de acordo com elas certamente caminha no caminho do progresso espiritual.

São as leis morais:
- Lei natural ou lei de Deus
- Lei de adoração
- Lei do trabalho
- Lei de reprodução
- Lei de conservação
- Lei de destruição
- Lei de sociedade
- Lei do progresso
- Lei de igualdade
- Lei de liberdade
- Lei de justiça, amor e caridade
- Conclusão: Perfeição moral.

Como cada lei compreende um capítulo na terceira parte de O Livro Dos Espíritos, destacarei aqui sempre as questões principais, e farei um post para cada uma das leis. Farei sempre um comentário após as perguntas. É recomendável que cada um estude esses capítulos. Caso fique com alguma dúvida, poste nos comentários ou mande um e-mail.

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A lei natural ou lei divina

"614. O que se deve entender por lei natural?

— A natural é a lei de Deus; é a única necessária à felicidade do homem; ela lhe indica o que ele deve fazer ou não fazer e ele só se torna infeliz porque dela se afasta.

615. A lei de Deus é eterna?

— É eterna e imutável, como o próprio Deus(1).

616. Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes proibiria em outra?

- Deus não se engana; os homens é que são obrigados a modificar as suas leis que são imperfeitas; mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade.

619. Deus proporcionou a todos os homens os meios de conhecerem a sua lei?

- Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem; os que melhor a compreendem são os homens de bem e os que desejam pesquisá-la.Não obstante, todos um dia a compreenderão, porque é necessário que o progresso se realize.

Comentário de Kardec: A justiça da multiplicidade de encarnações do homem decorre deste princípio. pois a cada nova existência sua inteligência se torna mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo tivesse de se realizar numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem diariamente no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que deles dependa o próprio esclarecimento? (Ver os itens 171a 222.)

620. A alma, antes de sua união com o corpo, compreende melhor a lei de Deus do que após a encarnação?

— Ela a compreende segundo o grau de perfeição a que tenha chegado e conserva a sua lembrança intuitiva após a união com o corpo; mas os maus instintos do homem freqüentemente fazem que ele a esqueça.

621. Onde está escrita a lei de Deus?

Na consciência’.

623. Esses que pretenderam instruir os homens na lei de Deus não se enganaram algumas vezes e não os fizeram transviar-se muitas vezes através de falsos princípios?

— Os que não eram inspirados por Deus e que se atribuíram a si mesmos, por ambição, uma missão que não tinham certamente os fizeram extraviar; não obstante, como eram homens de gênio, em meio aos próprios erros ensinaram freqüentemente grandes verdades.

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo?

— Vede Jesus.


Comentário de Kardec: Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra.

Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus algumas vezes s desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que era apenas leis humanas, instruídas para servir às paixões e dominar os homens.

629. Que definição se pode dar à moral?

— A moral e a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus.


630. Como se pode distinguir o bem do mal?

— O bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus;.fazer o mal é infringir essa lei.

631. O homem tem meios para distinguir por si mesmo o bem e o mal?

— Sim, quando ele crê em Deus e quando o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para discernir um e outro.


632. O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal?

—Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso. Assim não vos encanareis.

633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia seguro?

Quando comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem, é Deus que vos dá a medida do que vos falta. Quando a ultrapassais, sois punidos. O mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas, essa voz que. diz: chega!, evitaria a maior parte dos males de que acusa a Natureza.

634. Por que o mal se encontra na natureza das coisas? Falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições?

—Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. (Ver item 115.) Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. E necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isto é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo. (Ver item 119.)

640. Aquele que não faz o mal, mas aproveita o mal praticado por outro, é culpável no mesmo grau?

É como se o cometesse; ao aproveitá-lo, torna-se participante dele. Talvez tivesse recuado diante da ação; mas, se ao encontrá-la realizada, dela se serve, é porque a aprova e a teria praticado se pudesse ou se tivesse ousado.

641. O desejo do mal é tão repreensível quanto o mal?

— Conforme; há virtude em resistir voluntariamente ao mal que se sente desejo de praticar, sobretudo quando se tem a possibilidade de satisfazer esse desejo; mas se o que faltou foi apenas a ocasião, o homem é culpável.

642. Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?

— Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.


643. Há pessoas que, por sua posição, não tenham possibilidade de fazer o bem?

Não há ninguém que não possa fazer o bem; somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de praticá-lo. É suficiente estar em relação com outros homens para se fazer o bem, e cada dia da vida oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo, porque fazer o bem não é apenas ser caridoso mas ser útil na medida do possível, sempre que o auxílio se faça necessário.

644. O meio em que certos homens vivem não é para eles o motivo principal de muitos vícios e crimes?

— Sim, mas ainda nisso há uma prova escolhida pelo Espírito no estado de liberdade; ele quis se expor à tentação para ter o mérito da resistência.

646. O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições, ou seja, há diferentes graus no mérito do bem?

— O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-lo sem penas e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão que o rico que só dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva.

647. Toda a lei de Deus está encerrada na máxima do amor ao próximo ensinada por Jesus?

— Certamente essa máxima encerra todos os deveres dos homens entre si; mas é necessário mostrar-lhes a aplicação, pois do contrário podem negligenciá-la, como já afazem hoje. Aliás, a lei natural compreende todas as circunstâncias da vida e essa máxima se refere a apenas um dos seus aspectos. Os homens necessitam de regras precisas. Os preceitos gerais e muito vagos deixam muitas portas abertas à interpretação."


A lei divina, ou lei natural, trata essencialmente do discernimento entre o bem e o mal.

Todos nós temos as condições necessárias para distinguir o bem e o mal, através de nossa inteligência e de nossa consciência.

Sempre que vamos fazer algo errado, nossa consciência nos pesa e nos faz hesitar, é o sinal de que estamos prestes a cometer um erro. Mas muitas vezes não damos ouvidos a esse alerta e prosseguimos. Depois, o arrependimento e o remorso tomam conta de nós e nos torturam, por termos persistido no erro.

Sendo nós dotados de tamanha inteligência, não seria este o momento de refletir e repensar a atitude que se deseja tomar? Não saberemos nós distinguir o certo do errado?

E mesmo que nossa inteligência não nos permitisse fazer essa diferenciação entre o mal e o bem, Jesus nos deixou a regra máxima da conduta moral correta: não faças ao outro aquilo que não gostaria que te fizessem e faz ao outro aquilo que gostaria que te fosse feito.

É realmente necessária maior explicação do que esta? Quem é que gosta de ser caluniado, perseguido, agredido, enganado, traído, desprezado, humilhado e ignorado?

Acredito que ninguém. Mas então porque fazemos isso aos outros?

Com isso, percebemos como é fácil distinguir o bem e o mal. O que é difícil é termos coragem para mudarmos a nossa conduta e agir somente no bem.

Mas é muito cômodo agir somente em benefício próprio. É muito difícil sair dessa zona de conforto que nos encontramos a séculos. Porque eu mudaria, se as pessoas não mudam? Porque eu vou fazer o bem se todos fazem o mal?

É necessário que sejamos a mudança que queremos ver no mundo. E mesmo que ninguém mais mude, cada um é o autor de seu próprio destino. Não adianta lamentar-se da vida, pois quem sempre plantou o mal, somente colherá o mal.

E para encerrar este post, repito aqui mais uma vez a questão mais importante de O Livro dos Espíritos:

642. Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?
— Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.


Para quem não tem O Livro dos Espíritos e quiser acessar online este capítulo, basta clicar aqui .


Veja as outras partes desse estudo:

Estudo das leis morais - Parte 2: A lei de adoração

Estudo das leis morais - Parte 3: A lei do trabalho

Estudo das leis morais - Parte 4: A lei de reprodução

Estudo das leis morais - Parte 5: A lei de conservação

Estudo das leis morais - Parte 6: A lei de destruição


Estudo das leis morais - Parte 7: A lei de sociedade

Estudo das leis morais - Parte 8: A lei do progresso

Estudo das leis morais - Parte 9: A lei de igualdade


Estudo das leis morais - Parte 10: A lei de liberdade 

Estudo das leis morais - Parte 11: A lei de justiça, amor e caridade

Estudo das leis morais - Parte 12: Perfeição moral (parte 1)


Estudo das leis morais - Parte 13: Perfeição moral (parte 2) [Final]

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