Email do leitor Luis, sobre o post "Caridade, perdão e humildade" - Parte 2

Seguimos aqui com a continuação da parte 1 (leia aqui) do debate com o leitor Luis Conforti.

- Segundo e-mail do Luis (em destaque os trechos que são citações minhas no e-mail anterior)

      Conf: O amigo se desejar publique a msg; a idéia é essa: tentar “colocar a luz sobre o velador”, como ensinou o mestre.

      Rapha:... fui reler o texto...:
      "Deus não perdoa o orgulhoso, pelo contrário, o faz passar por mais dificuldades, até que seu orgulho seja domado e dobre os seus joelhos em sinal de humildade."

      ... a idéia que pretendia passar é a de que quando o espírito não aprende pelos meios sutis, é necessário passar por provas mais difíceis, na tentativa de assim ser tocado pelas lições que antes não compreendeu.

      Conf: amigos, não se aborreçam com tantas questões q apresento (já perguntaram se meu teclado só tem ponto de interrogação e já levei puxões de orelhas por isso!). Minha intenção é contribuir para q os companheiros façam o q precisam fazer: questionar, raciocinar e, se possível, q abram os olhos e olhem para o mundo; q atendam aos sábios conselhos da codificação de q estudemos outras doutrinas, as críticas e contras q apresentam em relação à nossa e, até mesmo, pela comparação, q escolhamos seguir a que mais se harmonize com nosso íntimo. E (é) repetição daquele sábio conselho de Paulo: “estudai de tudo e guardai o q for bom!”

      Os amigos, verão q um assunto q nos impede de melhor entender a doutrina, ou qualquer doutrina religiosa, está na questão das desigualdades q, pelo que vemos no mundo, resultam em procedimentos desiguais, com isso levando uns a se encaminharem para o bem e, conseqüentemente, para a felicidade, e outros, para o mal, adquirindo imperfeições as mais monstruosas e, conseqüentemente, para extremas infelicidades, que virão das terríveis conseqüências da lei de causa e efeito.

      Então, para os jovens amigos raciocinarem: qual seria a causa dessa desigualdade entre nós espíritos, q exige provas mais difíceis para uns do q para outros, como vc disse?

      (O amigo, se referindo à onisciência, trouxe outra questão sobre q devemos raciocinar profundamente; se desejar, a abordaremos noutra ocasião, para q esta msg não se alongue demais).

      Rapha: Deus com certeza perdoa, até porque se Deus ficasse ofendido não seria perfeito. Deus não cria expectativas, pois é onisciente, e portanto não pode se frustrar...
      Conf: aqui, o jovem disse algo q a doutrina não diz, mas com q, em certos termos, concordo. Pois, pela doutrina, o perdão divino não se estende a todas as transgressões e, nem mesmo, releva o “pecado”.

      Rapha: Quanto aos teus demais questionamentos, sabemos que todos somos criados simples e ignorantes, e que dependendo de nossas escolhas podemos seguir um caminho mais breve ou mais demorado até a perfeição.

      Conf: pois aí está a mesma questão: qual é a causa de fazermos escolhas desiguais? (é) evidente q, pela doutrina, resultarão em maiores sofrimentos para uns do q para outros, pois o caminho pode nos ser mais breve ou mais demorado, podendo, como diz a doutrina, resultar em multiplicadas encarnações a se estenderem até por milhões de anos, devido a essas escolhas. Qual é a causa dessas desigualdades? Quando e porq surgiram elas se, pela doutrina (por outras doutrinas também), em face da justiça divina, somos criados iguais?

      Rapha texto LE/114. Resp: “São os próprios Espíritos que se melhoram e, melhorando-se, passam de uma ordem inferior para outra mais elevada.”

      Conf: aqui, a questão é a mesma, as desigualdades, pois se entende q, por livre vontade, uns de nós melhoram mais rápida ou facilmente do que outros.

      Rapha: LE/115. Resp: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.”

      Conf: como vcs podem ver, sempre está presente a questão das desigualdades. Aí, uns submissos, outros reclamando das provas recebidas, fatos que beneficiarão os primeiros e que muito perturbarão o progresso dos segundos.

      Rapha: Então, pela minha atual compreensão, se hoje somos egoístas ou orgulhosos, isso decorre do caminho que escolhemos em existências passadas e das experiências que passamos decorrentes dessas escolhas. Certamente, ainda sem a maturidade suficiente para fazer boas escolhas, percorremos mais os caminhos tortuosos do que os corretos.

      Conf: pois aí está outra questão a raciocinar para entender melhor: pela doutrina, e pelo q vemos no mundo, os sofrimentos vêm dos erros q praticamos. Mas, aí, entra em cena a justiça divina q só faz sofrer quem merece sofrer (“o homem será punido naquilo em q pecou”) ou por aquelas exceções q a doutrina ensina: provas ou missões. Se sofremos porq somos egoístas e/ou orgulhosos, devido a escolha de caminhos errados, e se as escolhas erradas decorrem do fato de não termos ainda “maturidade suficiente para fazer boas escolhas”, onde está a culpa ou a responsabilidade do espírito por ser egoísta ou orgulhoso?

      Rapha: Mas se há um esquecimento quando encarnamos, é porque para isso há um propósito. É possível que as causas não sejam tão relevantes. Quem sabe seria mais produtivo focarmos nossos esforços nas soluções e não nos problemas?
      Conf: quem sabe...? Mas, não é esse o tema que agora estamos abordando, não é o mais importante...

      Rapha... quanto mais nos esclarecemos, mais fácil torna-se compreender nossos erros passados. Então quem sabe procuremos agir de maneira correta, sem olhar para trás, e conforme progredirmos compreenderemos mais o passado?

      Conf: vc está querendo dizer, portanto, q necessitamos de conhecer o passado, evidentemente para evitar a repetição de erros então cometidos, é isso? Que, então, não compreendíamos, de forma exata, q eram erros e, por isso os praticamos? Mas, se os praticamos, qual teria sido a causa de fazê-lo, senão a ignorância? Pois, não tínhamos maturidade suficiente e não compreendíamos! E óbvio q, se sábios fôssemos, nenhum erro praticaríamos, concorda?

      Rapha: Ninguém, em sã consciência, creio eu, opta por ser egoísta e orgulhoso... O orgulhoso acredita estar certo, por isso as tentativas de lhe abrir os olhos são normalmente em vão, até que um dia ocorra uma situação em sua vida que o motive a rever seus conceitos. Mas até lá, seguirá iludido, se achando certo quando na verdade está equivocado.

      Conf: pois é isso q acontece; contudo, qual é a causa de seu orgulho? E dessa desigualdade q faz uns egoístas e orgulhosos e outros não, ou em menor intensidade? E, mais importante, qual é a causa de seus sofrimentos, se ser orgulhoso ou egoísta não depende da vontade, ou escolha de ninguém; como vc mesmo acaba de dizer (e está certo nisso), não crê q alguém, q tenha sua consciência sã, escolha ser egoísta e/ou orgulhoso. Então, porq pela lei divina devemos ser, por isso, penalizados?

      Rapha: Portanto, penso que ninguém escolha por si mesmo ser "mau". Com certeza há aqueles que se comprazem na maldade, mas ainda esses são ignorantes que não compreendem seus atos. Mas na maioria da população, acredito que existam mais erros por ignorância do que por escolha própria. Mas enfim, isso tudo é o nosso ponto de vista, que pode estar equivocado.
      Conf: é isso mesmo, e isso não é ponto de vista, não é opinião! E (é) conseqüência de raciocinar, observar e chegar a uma conclusão pela observação da vida, pelo raciocínio lógico pois, como poderia ser diferente disso, sendo q todos, pela doutrina, somos criados perfeitamente iguais pois não pode existir privilegiados dentro da concepção de uma perfeita justiça!

      Rapha: Aqui falamos do que compreendemos e de como compreendemos. Sabemos que o entendimento da Doutrina é proporcional à nossa evolução moral, e por isso podemos certamente errar ou não ter a compreensão exata.

      Conf: é evidente q aí esta presente a evolução intelectual, da qual a evolução moral é conseqüência pois, tudo q fazemos, todas as nossas decisões, escolhas certas ou erradas, todo o amor ou desamor, vem de nossa compreensão (intelecto), correta ou equivocada, de como devemos agir, em qualquer circunstância, compreensão q vem das influencias sobre nós exercidas pelas experiências/lições pela quais passamos na escola da vida.

      Rapha: A verdade certamente está na Doutrina, mas certamente não é nem em um ano e nem em dez que a compreenderemos por completo. Mas com certeza, degrau após degrau iremos todos progredindo, imbuídos do nosso objetivo de desta encarnação sairmos melhores do que quando aqui chegamos.

      Conf: não esquecer q a doutrina não é inquestionável, como as religiões dogmáticas; está aberta a questionamentos e mesmo a acatar novas verdades desde q cientificamente comprovadas (embora não tenha feito isso, ultimamente). A própria DE sabiamente aconselha a termos uma fé raciocinada, q a questionemos, q a comparemos com outras e, até q, se for o caso, escolhamos seguir outra, pois doutrina, ou religião é assunto de foro íntimo.

      Perceberam? Temos de, não simplesmente crer na  doutrina, em qualquer doutrina, pelo fato de termos confiança em suas fontes, mas usar nossa cabeça, questionar seus conceitos, compará-la com outras. Porq é que nosso mundo tem dezenas de denominações religiosas, cada uma com suas divisões e subdivisões, e cada uma se considerando a única certa? Há muitas coisas, pelo mundo, corretas, como há incorretas. O homem, inadvertidamente, escondeu a verdade sob uma montanha de conceitos e superstições tolas (nenhuma culpa lhes cabe por isso) que mais confundem do q explicam. Todas as doutrinas apresentam pontos, questões, respostas obscuras, estranhas, incoerentes e até contraditórias.  E, parece q, em geral, os q as estudam a mais tempo se acostumam a aceitar tudo e se tornam carregados de preconceitos q lhes impede uma correta compreensão, pois prejudicam os questionamentos e uma pesquisa mais apurada. Como me parece os produtores desse novo blog são jovens, lhes será mais fácil deixarem de lado condicionamentos q nos mais antigos são difíceis de remover.


- Segunda resposta do blog:

Luis,
Não nos aborrecemos com os questionamentos. Todo debate feito com respeito e dedicação é de grande valor para o maior aprendizado de todos os tópicos levantados. Com a nossa amada doutrina não seria diferente: o debate nos permite ver por ângulos diferentes dos quais costumamos ver, e com isso podemos crescer.
Para ser mais objetivo, responderei em tópicos, fica mais fácil para organizar as idéias.
--- Sobre a desigualdade entre os espíritos.
Penso que aqui cabe analisarmos dois aspectos: o moral e o intelectual. Como tu mesmo citastes, esses dois fatores interferem em nossas escolhas. Para que um espírito tome este ou aquele caminho, dependerá de diversas variáveis, peculiares ao momento em que vive e ao intelecto e moralidade que possui. Fazendo uma analogia: algumas pessoas escolhem um carro baseadas na potência, outras na economia, outras no espaço, outras no design, outras no modismo. E mesmo dentre essas, haverá diferentes poderes aquisitivos. Some-se a isso as opiniões dadas por familiares e amigos aconselhando que o comprador escolha o carro X ou Y. E cada um arcará com a manutenção do carro que comprar, seus pontos fortes e fracos.
Da mesma maneira procede conosco. A aparente desigualdade das provas e expiações depende da somatória das escolhas feitas e das variáveis envolvidas. Não podemos considerar somente uma existência, mas o encadeamento de todas elas. E em todas, o homem faz uso de seu livre arbítrio e de sua inteligência para fazer as suas escolhas.
--- Sobre a ignorância dos espíritos e a culpabilidade de seus atos.
Não podemos considerar todos totalmente ignorantes. Até mesmo porque alguns são ingorantes em algumas coisas, mas não em outras. O ignorante absoluto só existe nos mundos primitivos. Vejamos o que nos diz a lei natural, contida no Livro dos Espíritos:

619. Deus proporcionou a todos os homens os meios de conhecerem a sua lei?
- Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem; os que melhor a compreendem são os homens de bem e os que desejam pesquisá-la.Não obstante, todos um dia a compreenderão, porque é necessário que o progresso se realize.
Comentário de Kardec: A justiça da multiplicidade de encarnações do homem decorre deste princípio. pois a cada nova existência sua inteligência se torna mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo tivesse de se realizar numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem diariamente no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que deles dependa o próprio esclarecimento? (Ver os itens 171a 222.)
620. A alma, antes de sua união com o corpo, compreende melhor a lei de Deus do que após a encarnação?
— Ela a compreende segundo o grau de perfeição a que tenha chegado e conserva a sua lembrança intuitiva após a união com o corpo; mas os maus instintos do homem freqüentemente fazem que ele a esqueça.
621. Onde está escrita a lei de Deus?
— Na consciência’.
621. a) Desde que o homem traz na consciência(1) a lei de Deus, que necessidade tem de que lha revelem?
— Ele a tinha esquecido e desprezado: Deus quis que ela lhe fosse lembrada.
622. Deus outorgou a alguns homens a missão de revelar a sua lei?
_ Sim, certamente; em todos os tempos houve homens que receberam essa missão. São Espíritos superiores, encarnados com o fim de fazer progredir a Humanidade.
626. As leis divinas e naturais só foram reveladas aos homens por Jesus e antes dele só foram conhecidas por intuição?
- Não dissemos que elas estão escritas por toda a parte? Todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e ensiná-las desde os séculos mais distantes. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las sempre que desejou procurá-las. Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos os tempos pelos homens de bem, e também porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, mas incompletos ou alterados pela ignorância e a superstição.

Sempre, de algum modo, foi possível aos homens distinguir o certo do errado. E com isso os homens adquiriram a responsabilidade por seus atos, sempre proporcional ao seu grau de conhecimento e de ignorância. Mas sempre tendo uma parcela de responsabilidade.

Jesus facilitou mais ainda, ensinando: "Faz ao próximo o que gostaria que te fosse feito e não faça ao próximo o que não gostaria que te fizessem". Todo aquele que tomou conhecimento desta máxima, adquiriu maiores responsabilidades, pois "muito é cobrado de quem muito recebeu". Nesta máxima estão contidos todos os ensinamentos do Cristo.
Podemos perceber então que não há somente os ignorantes, mas também os negligentes, e entre eles há uma notável diferença.

E seguimos na lei natural:

630. Como se pode distinguir o bem do mal?
— O bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus;.fazer o mal é infringir essa lei.
631. O homem tem meios para distinguir por si mesmo o bem e o mal?
— Sim, quando ele crê em Deus e quando o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para discernir um e outro.
632. O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal?
—Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso. Assim não vos encanareis.
633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia seguro?
— Quando comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem, é Deus que vos dá a medida do que vos falta. Quando a ultrapassais, sois punidos. O mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas, essa voz que. diz: chega!, evitaria a maior parte dos males de que acusa a Natureza.
634. Por que o mal se encontra na natureza das coisas? Falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições?
—Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. (Ver item 115.) Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. E necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isto é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo. (Ver item 119.)
635. As diferentes condições sociais criam necessidades novas que não são as mesmas para todos os homens. A lei natural pareceria, assim, não ser uma regra uniforme?
— Essas diferentes condições existem na Natureza e estão de acordo com a lei do progresso. Isso não impede u unidade da lei natural, que se aplica a tudo.
Comentário de Kardec: As condições de existência do homem mudam segundo as épocas e os lugares, e disso resultam para ele necessidades diferentes e condições sociais correspondentes a essas necessidades. Desde que essa diversidade está na ordem das coisas é conforme à lei de Deus, e essa lei, por isso, não é menos una em seu princípio. Cabe à razão distinguir as necessidades reais das necessidades fictícias ou convencionais.
636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens?
— A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade.

Adentrando no Livro Quarto, parte final do Livro dos Espíritos, nos deparamos com as seguintes questões:

920. O homem pode gozar na Terra uma felicidade completa?
 — Não, pois a vida lhe foi dada como prova ou expiação, mas dele depende abrandar os seus males e ser tão feliz, quanto se pode ser na Terra.
921. Concebe-se que o homem seja feliz na Terra quando a Humanidade estiver transformada, mas, enquanto isso não se verifica, pode cada um gozar de uma felicidade relativa?
 — O homem é, na maioria das vezes, o artífice de sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele pode poupar-se a muitos males e gozar de uma felicidade tão grande quanto o comporta a sua existência num plano grosseiro.
Comentário de Kardec: O homem bem compenetrado do seu destino futuro não vê na existência corpórea mais do que uma rápida passagem. É como uma parada momentânea numa hospedaria precária. Ele se consola facilmente de alguns aborrecimentos passageiros, numa viagem que deve conduzi-lo a uma situação tanto melhor quanto mais atenciosamente tenha feito os seus preparativos para ela.
Somos punidos nesta vida pelas infrações que cometemos às leis da existência corpórea, pelos próprios males decorrentes dessas infrações e pelos nossos próprios excessos Se remontarmos pouco a pouco à origem do que chamamos infelicidades terrenas veremos a estas, na sua maioria, como a conseqüência de um primeiro desvio do caminho certo. Em virtude desse desvio inicial, entramos num mau caminho e de conseqüência em conseqüência, caímos afinal na desgraça.
933. Se é o homem, em geral, o artífice dos seus sofrimentos materiais sê-lo-á também dos sofrimentos morais?
 — Mais ainda, pois os sofrimentos materiais são, às vezes, independentes da vontade, enquanto o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, enfim constituem torturas da alma.
Inveja e ciúme!, felizes os que não conhecem esses dois vermes vorazes. Com a inveja e o ciúme, não há calma, não há repouso possível.  Para aquele que sofre desses males, os objetos da sua cobiça, do seu ódio e do seu despeito; se erguem diante dele como fantasmas que não o deixam em paz e o perseguem até no sono. O invejoso e o ciumento vivem num estado de febre contínua. É essa uma situação desejável? Não compreendeis que, com essas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários e que a Terra se transforma para ele num verdadeiro inferno?
Comentário de Kardec: Muitas expressões figuram energicamente os efeitos de algumas paixões. Diz-se: está inchado de orgulho, morrer de inveja, secar de ciúme ou de despeito,  perder o apetite por ciúmes etc. esse quadro nos dá bem a verdade. Às vezes, o ciúme nem tem objeto determinado. Há pessoas que se mostram naturalmente ciumentas de todos os que se elevam, de todos os que saem da vulgaridade, mesmo quando não tenham no caso nenhum interesse direto, mas unicamente por não poderem atingir o mesmo plano. Tudo aquilo que parece acima do horizonte comum as ofusca, e, se formassem a maioria da sociedade, tudo desejariam rebaixar ao seu próprio nível. Temos nestes casos o ciúme aliado à mediocridade.
       O homem é infeliz ,geralmente, pela importância que liga às coisas deste mundo.  A vaidade, a ambição e a cupidez fracassadas o fazem infeliz. Se ele se elevar acima do circulo estreito da vida material, se elevar o seu pensamento ao infinito, que é o seu destino, as vicissitudes  da Humanidade lhe parecerão mesquinhas e pueris, como as mágoas da criança que se aflige pela perda de um brinquedo que representava a sua felicidade suprema.
       Aquele que só encontra a felicidade na satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros é infeliz quando não os pode satisfazer, enquanto o que não se interessa pelo supérfluo se sente feliz com aquilo que para os outros constituiria infortúnio.
       Referimo-nos aos homens civilizados porque o selvagem, tendo necessidades mais limitadas, não tem os mesmos motivos de cobiça e de angústias; sua maneira de ver as coisas é muito diferente. No estado de civilização, o homem pondera  a sua infelicidade, a analisa, e por isso é mais afetado por ela, mas pode também ponderar e analisar os seus meios de consolação. Esta consolação ele a encontra no sentimento cristão, que lhe dá a esperança de um futuro melhor, e no Espiritismo, que lhe dá a certeza do futuro.

Acredito que estas questões são suficientes para esclarecer o tema proposto, mostrando que não existem injustiças e nem desigualdades. A única desigualdade é a moralidade de cada um, e que interfere diretamente na sua maior ou menor felicidade, e nas suas mais duras ou brandas provas.

- Sobre conhecer o passado.
Não é necessário conhecer o passado para evitar a repetição de erros. Basta conhecermo-nos a nós mesmos e identificarmos nossas tendências, boas ou más, que aí estará implícito o nosso passado. Para progredir, o que necessitamos é distinguir o certo do errado (conforme tópico anterior) e nos empenharmos em seguir o caminho correto. Como diz no Livro dos Espíritos:

642. Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma melhor situação futura?

— Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.
643. Há pessoas que, por sua posição, não tenham possibilidade de fazer o bem?
— Não há ninguém que não possa fazer o bem; somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de praticá-lo. É suficiente estar em relação com outros homens para se fazer o bem, e cada dia da vida oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo, porque fazer o bem não é apenas ser caridoso mas ser útil na medida do possível, sempre que o auxílio se faça necessário.

- Sobre a Doutrina e outras crenças.
Certamente, a Doutrina Espírita não é inquestionável. Mas pelo menos para mim, representa a mais apurada e objetiva doutrina com a qual tive contato. A única doutrina que trouxe o esclarecimento à todos os meus questionamentos e que me deu a perspectiva de que um futuro melhor é possível e só depende de nós.

Antes de estudar o Espiritismo, estudei diversas outras crenças, entre as principais: budismo, taoísmo, hinduísmo e confucionismo. Em todas elas aprendi muitas coisas, mas somente na Doutrina Espírita é que compreendi que não basta SABER, é preciso PRATICAR.
E sempre gosto de citar o raciocínio do codificador, presente na conclusão de O Livro dos Espíritos:

"Ele (o Espiritismo) torna felizes os que o compreendem, enquanto a sua influência não se estende sobre as massas. Mesmo aquele que não tenha testemunhado nenhum fenômeno material de manifestações dirá: além dos fenÔmenos há uma filosofia; essa filosofia me explica o que NENHUMA outra havia explicado; nela encontro, pelo simples raciocínio, uma demonstração racional dos problemas que  interessam no mais alto grau ao meu futuro; ela me proporciona a calma, a segurança, a confiança, me livra do tormento da incerteza e ao lado disso a questão dos fatos materiais se torna secundária. Vós todos, que o atacais, quereis um meio de o combater com sucesso? Ei-lo aqui. Substituí-o por alguma coisa melhor, encontrai uma solução MAIS FILOSÓFICA para todas as questões que ele resolve, dai ao homem OUTRA CERTEZA que o torna mais feliz, mas compreendei bem o alcance dessa palavra certeza, porque o homem não aceita como certo senão o que lhe parece lógico. Não vos contenteis de dizer que isso não é assim, pois é muito fácil negar. Provai, não por uma negação, mas através dos fatos que isso não é, jamais foi e nem PODE ser. E se isso não é, dizei sobretudo o que devia ser em seu lugar. Provai, por fim, que as conseqüências do Espiritismo não tornam os homens melhores e, portanto, mais felizes, pela prática da mais pura moral evangélica, moral que muito se louva mas pouco se pratica. Quando tiverdes feito isso, tereis o direito de o atacar. O Espiritismo é forte porque se apóia nas próprias bases da religião: Deus, a alma, as penas e recompensas futuras, e porque sobretudo mostra essas penas e recompensas como conseqüências naturais da vida terrena, oferecendo um quadro do futuro cm que nada pode ser contestado pela mais exigente razão."
Por fim, percebemos que a Doutrina Espírita nos traz as respostas para todas as questões, com explicações lógicas, sensatas e racionais. Entretanto, com esse volume imenso de esclarecimentos, já não poderemos mais alegar ignorância. É pois nosso dever não só estudar estes sábios ensinamentos como tentarmos com todas as nossas forças praticá-los.
Luís, te agradeço mais uma vez pela oportunidade de debatermos esses temas, a fim de refletirmos mais a fundo sobre eles e com isso melhor compreendê-los.

Se ainda tiveres a debater sobre os temas propostos, será mais uma vez com grande satisfação que debateremos, com os sucintos conhecimentos que adquirimos até o momento.
Um grande abraço,

Raphael Trevisan e amigos.

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