Estudo das leis morais - Parte 8: A lei do progresso

Hoje estudaremos a extensa e muito esclarecedora lei do progresso. É uma das minhas preferidas!

"776. O estado natural e a lei natural são a mesma coisa?

— Não; o estado natural é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o estado natural, enquanto a lei natural contribui para o progresso da Humanidade.

Comentário de Kardec: O estado natural é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. O homem, sendo perfectível e trazendo em si o germe de seu melhoramento, não foi destinado a viver perpetuamente na infância. O estado natural é transitório e o homem o deixa pelo progresso e a civilização. A lei natural, pelo contrário, rege toda a condição humana e o homem  se melhora na medida em que melhor compreende e melhor pratica essa lei.

777. No estado natural, tendo menos necessidade, o homem não sofre todas as atribulações que cria para si mesmo num estado mais adiantado. Que pensar da opinião dos que considerem esse estado como o da mais perfeita felicidade terrena?

— Que queres? É a felicidade do bruto. Há pessoas que não compreendem a outra. É ser feliz a maneira dos animais. As crianças também são mais felizes que os adultos.

778. O homem pode retrogradar para o estado natural?

— Não, o homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância.  Se ele progride, é que Deus assim o quer; pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a lei do progresso.


779. O homem tira de si  mesmo a energia progressiva ou o progresso não é mais do que o resultado de um ensinamento?

O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma maneira; é então que os mais adiantados ajudam os outros a progredir, pelo contato social.

780. O progresso moral segue sempre o progresso intelectual?

— É a sua conseqüência, mas não o segue sempre imediatamente. (Ver itens 192 e 365).

780 – a) Como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral?

— Dando a compreensão do bem e do mal, pois então o homem pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos.

780 – b) Como se explica, então, que os povos mais esclarecidos sejam frequentemente os mais pervertidos?

— O progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os indivíduos, não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o senso moral, eles podem servir-se da inteligência  para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo. (Ver itens 365 e 751.)  


781. É permitido ao homem deter a marcha do progresso?

— Não, mas pode entravá-la algumas vezes.

782. Não há homens que entravam o progresso de boa fé, acreditando favorecê-lo, porque o vêem segundo o seu ponto de vista, e freqüentemente onde ele não existe?

— Pequena pedra posta sob a roda de um grande carro sem impedi-lo de avançar.

783. O aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta?

— Há o progresso regular e  lento que resulta da força das coisas; mas quando um povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.


Comentário de Kardec: Sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não asfixiar. Quando essas leis se tornam de todo incompatíveis com o progresso, ele as derruba, com todos os que as querem manter, e assim será até que o homem harmonize as suas leis coma  justiça divina , que deseja o bem para todos, e não as leis feitas para o forte em prejuízo do fraco.

O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas idéias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações.

O homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão momentâneas, que o atingem nos seus interesses materiais, mas aquele que eleva o seu pensamento acima dos interesses pessoais admira os desígnios da Providência que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido(1).


784. A perversidade do homem é bastante intensa, e não aprece que ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral?

— Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois vai compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia corrige os seus abusos. É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender as necessidades do bem e das reformas.


785. Qual é o maior obstáculo ao progresso?

— O orgulho e o egoísmo. Quero referir-me ao progresso moral, porque o intelectual avança sempre. Este aprece, aliás, à primeira vista, duplicar a intensidade daqueles vícios desenvolvendo a ambição e o amor das riquezas, que por sua vez incitam o homem às pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. É assim que tudo se relaciona no mundo moral como no físico e que do próprio mal pode sair o bem. Mas esse estado de coisas durará apenas algum tempo; modificar-se-á à medida que o homem compreender melhor que, além do gozo dos bens terrenos, existe uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável. (Ver Egoísmo, cap XII).


Comentário de Kardec: Há duas espécies de progresso que mutuamente se apóiam e, entretanto, não marcham juntas: progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro recebe em nosso século todos os estímulos desejáveis e por isso atingiu um grau até hoje desconhecido. Seria necessário que o segundo estivesse no mesmo nível. Não obstante, se compararmos os costumes sociais de alguns séculos  atrás com os de hoje, teremos de ser cegos para negar que houve progresso moral. Por que, pois, a marcha ascendente da moral deveria mostrar-se mais lenta que a da inteligência? Por que não haveria, entre o século décimo nono e o vigésimo quarto, tanta diferença nesse terreno como entre o décimo quarto e o décimo nono? Duvidar disso seria pretender que a Humanidade tivesse atingido o apogeu da perfeição, o que é absurdo, ou que ela não é moralmente perfectível, o a experiência desmente.

786. A História nos mostra uma multidão de povos que, após terem sido convulsionados, recaíram na barbárie. Onde está nesse caso o progresso?

— Quando a tua casa ameaça cair, tu a derrubas para a reconstruir de maneira mais sólida e mais cômoda; mas, até que ela esteja reconstruída, haverá desarranjos e confusões na tua moradia.

Compreende isto também; és pobre e moras num casebre, mas ficas rico e o deixas para morar num palácio. Depois um pobre diabo, como o eras, vem tomar o teu lugar no casebre e se sente muito contente, pois antes não possuía um abrigo. Pois bem, compreende então que os Espíritos encarnados neste povo degenerado não são mais os que o constituíram nos tempos de sues esplendor. Aqueles, logo que se tornaram mais adiantados, mudaram-se para habitações mais perfeitas e progrediram, enquanto outros, menos avançados, tomaram seu lugar, que por sua vez também deixarão.


787. Não há raças rebeldes ao progresso por sua própria natureza?

— Sim, mas dia a dia elas se aniquilam corporalmente.

787 – a) Qual será o destino futuro das almas que animam essas raças?

— Chegarão à perfeição, como todas as outras, passando por várias experiências. Deus não deserda ninguém.

787 – b) Então, os homens mais civilizados podem ter sido selvagens e antropófagos?

— Tu mesmo o foste, mais de uma vez, antes de seres o que és.

788. Os povos são individualidades coletivas que passam pela infância, a idade madura e a decrepitude, como os indivíduos. Essa verdade constatada pela História não nos permite supor que os povos mais adiantados deste século terão o seu declínio e o seu fim, como os da Antiguidade?

Os povos que só vivem materialmente, cuja grandeza se firma na força e na extensão territorial, crescem e morrem porque a força de um povo se esgota como a de um homem; aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade morrem porque a luz aniquila as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas há para os povos, como para os indivíduos, a vida da alma, e aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e serão o farol dos outros povos.

789. O progresso reunirá um dia todos os povos da Terra numa só nação?

Não em uma só nação, o que é impossível, pois da diversidade dos climas nascem costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades. Assim, serão sempre necessárias leis apropriadas a esses costumes e a essas necessidades. Mas a caridade não conhece latitudes e não faz distinção dos homens pela cor. Quando a lei de Deus constituir por toda parte a base da lei humana, os povos praticarão a caridade de um para o outro, como os indivíduos de homem para homem, vivendo felizes e em paz, porque ninguém tentará fazer o mal ao vizinho ou viver à suas expensas.

Comentário de Kardec: A Humanidade progride através dos indivíduos que se melhoram pouco a pouco e se esclarecem; quando estes se tornam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos em tempos, surgem os homens de gênio que lhes dão um impulso, e, depois, homens investidos de autoridades, instrumentos de Deus, que em alguns anos a fazem avançar de muitos séculos.

O progresso dos povos faz ainda ressaltar a justiça da reencarnação. Os homens de bem fazem louváveis esforços para ajudar uma nação a avançar moral e intelectualmente; a nação transformada será mais feliz neste mundo e no outro, compreende-se; mas. Durante a sua marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem diariamente, e qual seria a sorte de todos esses que sucumbem durante o trajeto? Sua inferioridade relativa os priva da felicidade reservada aos que chegam por último?  Ou também a sua felicidade é relativa? A justiça divina não poderia consagrar semelhante injustiça. Pela pluralidade das existências, o direito à felicidade é sempre o mesmo para todos, porque ninguém é deserdado  pelo progresso. Os que viveram no tempo de barbárie, podendo voltar no tempo da civilização, no mesmo povo ou em outro, é claro que todos se beneficiam da marcha ascendente.

Mas o sistema da unidade da existência apresenta neste caso outra dificuldade. Com esse sistema, a alma é criada no momento do nascimento, de maneira que um homem é mais adiantado que o outro porque Deus criou para ele uma alma mais adiantada.  Por que esse favor? Que mérito tem ele, que não viveu mais do que o outro, menos, muitas vezes, para ser dotado de uma alma superior?  Mas essa não é a principal dificuldade. Uma nação passa, em mil anos, da barbárie à civilização. Se os homens vivessem mil anos, poderia conceber-se que, nesse intervalo, tivessem tempo de progredir; mas diariamente morrem criaturas em todas as idades, renovando-se sem cessar, de maneira que dia a dia as vemos aparecerem  e desaparecerem.

No fim de um milênio, não há mais traços dos antigos habitantes; a nação de bárbara que era tornou-se civilizada; mas quem foi que progrediu? Os indivíduos outrora bárbaros? Esses já estão mortos há muito tempo. Os que chegaram por último?  Mas se sua alma foi criada no momento do nascimento, essas almas não existiriam no tempo da barbárie  e é necessário admitir, então, que os esforços desenvolvidos para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar as almas imperfeitas, ,as de fazer Deus criar outras mais perfeitas.

Comparemos esta teoria do progresso com a que nos foi dada pelos Espíritos. As almas vinda nos tempo da civilização tiveram a sua infância, como todas as outras, mas já viveram e chagam adiantadas em conseqüência de um progresso anterior; elas vêm atraídas por um meio que lhes é simpático e que está em relação com o seu estado atual. Dessa maneira, os cuidados dispensados à civilização de um povo ou não têm por efeito determinar a criação futura de almas mais perfeitas, mas atrair aquelas que já progrediram, seja as que já viveram nesse mesmo povo em tempos de barbárie, seja as que procedem de outra parte. Aí temos, ainda, a chave do progresso de toda a Humanidade.  Quando todos os povos estiverem no mesmo nível quanto ao sentimento do bem, a Terra só abrigará bons espíritos, que viverão em união fraterna.  Os maus, tendo sido repelidos e deslocados, irão procurar nos mundos inferiores o meio que lhes convém, até que se tornem dignos de voltar ao nosso meio transformado.  A teoria vulgar tem ainda esta conseqüência: os trabalhos de melhoramento social só aproveitam às gerações presentes e futuras; seu resultado é nulo para as gerações passadas, que cometeram o erro de chegar muito cedo e só avançaram na medida de suas forças, sob a carga de seus atos de barbárie. Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos ulteriores aproveitam igualmente a essas gerações, que revivem nas condições melhores e podem aperfeiçoar-se no meio da civilização. (Ver item 222.)

790. A civilização é um progresso, ou, segundo alguns filósofos, uma  decadência da Humanidade?

— Progresso incompleto, pois o homem não passa subitamente da infância à maturidade.

790 – a) É razoável condenar-se a civilização?

— Condenai antes os que abusam dela e não a obra de Deus.

791. A civilização se depurará um dia, fazendo desaparecer os males que tenha produzido?

— Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a inteligência. O fruto não pode vir antes da flor.


792. Por que a civilização não realiza imediatamente todo o bem que ela poderia produzir?

— Porque os homens ainda não se encontram em condições, nem dispostos a obter este bem.


792 – a) Não seria ainda porque, criando necessidades novas, excita novas paixões?

Sim, e porque todas as faculdades do Espírito não progridem ao mesmo tempo; é necessário tempo para tudo. Não podeis esperar frutos perfeitos de uma civilização incompleta. (Ver itens 751 e 780.)

793. Por que sinais se pode reconhecer uma civilização completa?

— Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento, não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização.

Comentário de Kardec: A civilização tem os seus graus, como todas as coisas. Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males. À medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral.

De dois povos que tenham chegado ao ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, cupidez e orgulho; em que os costumes sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com mais  liberdade; em que exista mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; em que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque esses prejuízos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; em que as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último como para o primeiro; em que a justiça se exerça com o mínimo de parcialidade em que o fraco  sempre encontre apoio contra o forte; em que a vida do homem suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas; em que haja menos desgraçados; e por fim, em que todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário


794. A sociedade poderia ser regida somente pelas leis naturais sem o recurso das leis humanas?

- Poderia se os homens as compreendessem bem e quisessem praticá-las; então, seriam suficientes. Mas a sociedade tem as suas exigências e precisa de leis particulares.


795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas?

- Nos tempos de barbárie, são os mais fortes quedem as leis e as fazem em seu favor. Há necessidade de modifica-las à medida que os homens vão melhor compreendendo a justiça. As leis humanas são mais estáveis à medida que se aproximam da verdadeira justiça, quer dizer, à medida que são feitas para todos e se identificam com a lei natural.

Comentário de Kardec: A civilização criou novas necessidades para o homem e essas necessidades são relativas a posição social de cada um. Foi necessário regular os direitos e os deveres dessas posições através de leis humanas. Mas, sob a influência das suas paixões, o homem criou, muitas vezes, direitos e deveres imaginários, condenados pela lei natural e que os povos apagam dos seus códigos à proporção que progridem.  A lei natural é imutável e sempre a mesma para todos; a lei humana  é variável e progressiva: somente ela pode consagrar, na infância da Humanidade, o direito do mais forte.

796. A severidade das leis penais não é uma necessidade no estado atual da sociedade?

- Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas- infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do  que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que, assim, não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.


797 Como o homem poderia ser levado a reformar as suas leis?

- Isso acontecerá naturalmente, pela força das circunstâncias e pela influência das pessoas de bem que o conduzem na senda do progresso. Há muitas que já foram reformadas e muitas outras ainda o serão. Espera.


798. O Espiritismo se tornará uma crença comum ou será apenas a de  algumas pessoas?

- Certamente ele se tomará uma crença comum e marcara uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar entre os conhecimentos humanos. Haverá, entretanto grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção porque não se pode dissimular que há pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio e outras por motivos puramente materiais. Mas os seus contraditares, ficando cada vez mais isolados, serão afinal forçados a pensar como todos os outros, sob pena de se tornarem ridículos.

Comentário de Kardec: As idéias só se transformam com o tempo e não subitamente; elas se enfraquecem de geração em geração e acabam por desaparecer com os que as professavam e que são substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como se verifica com as idéias políticas. Vede o paganismo; não há ninguém, certamente que professe hoje as idéias religiosas daquele tempo; não obstante, muitos séculos depois do advento do Cristianismo, ainda haviam deixado traços que somente a completa renovação das raças pôde apagar. O mesmo acontecerá com o Espiritismo; ele faz muito progresso, mas haverá ainda, durante duas ou três gerações, um fenômeno de incredulidade que só o tempo fará desaparecer. Contudo, sua marcha será mais rápida que a do Cristianismo porque é o próprio Cristianismo que lhe abre as vias sobre as quais ele  se desenvolvera. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que construir(1).

799. De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?

— Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A ‘vida futura não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor, ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos.


800. Não é de temer que o Espiritismo não consiga vencer a indiferença dos homens e o seu apego às coisas materiais?

Seria conhecer bem pouco os homens, pensar que uma causa qualquer pudesse transformá-los como por encanto. As idéias se modificam pouco a  pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos. A transformação, portanto, não  pode operar-se a não ser com o tempo, gradualmente, pouco a pouco. Em cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem rasgá-lo de uma vez; mas mesmo que só tivesse o efeito de corrigir um homem de um só dos seus defeitos, isso seria um passo que ele afaria dar e por isso um grande bem, porque esse primeiro passo lhe tornaria os outros mais fáceis.

801. Por que os Espíritos não ensinaram desde todos os tempos o que ensinam hoje?

Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao  recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem o seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desfiguraram, mas que atualmente podem compreender. Pelo seu ensinamento,mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber a semente que vai  agora frutificar.

802. Desde que o Espiritismo deve marcar um progresso da Humanidade, por que os Espíritos não apressam esse progresso através de manifestações tão gerais e patentes que pudessem levar a convicção aos mais incrédulos?

— Desejaríeis milagres, mas Deus os semeia a mancheias nos vossos passos e tendes ainda homens que os negam. O Cristo, ele próprio, convenceu os seus contemporâneos com os prodígios que realizou? Não vedes ainda hoje os homens negarem os fatos mais patentes que se passam aos seus olhos? Não tendes os que não acreditariam, mesmo quando vissem? Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens. Na sua bondade, ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão."


O progresso, sendo uma lei de Deus, não pode jamais ser detido. Alguns homens, por seus interesses mesquinhos e egoístas tentam impedir que o progresso ocorra. Tentam impedir que as pessoas se esclareçam e se libertem de seu domínio, tal como era nos tempos do feudalismo.

Mas mesmo estes homens conseguem somente atrasar o progresso. Nunca o pararão, pois as leis de Deus são eternas e imutáveis.

Sendo assim, é nosso dever não só como sociedade, mas como espíritos, progredir também, incessantemente.

Os homens possuindo dois pilares, a evolução moral e a evolução intelectual, devem progredir igualmente nas duas, para que um dia alcancem a perfeição.

Já está enraizada em nossa sociedade a necessidade do progresso intelectual: desde cedo as crianças vão à escola, depois à faculdade e assim por diante.

Entretanto ainda falta percebermos a necessidade do progresso moral. Quando começaremos a ensinar desde cedo os valores cristãos para as crianças? Mas não basta apenas ensinarmos, se nós próprios não dermos o exemplo.

A cada dia a civilização progride mais rápido: seu intelecto está se desenvolvendo com facilidade. É necessário utilizarmos agora todo esse potencial de raciocínio e entendimento para assimilarmos a necessidade da melhoria íntima e da fé raciocinada.


Para quem não tem O Livro dos Espíritos e quiser acessar online este capítulo, basta clicar aqui .

Veja as outras partes desse estudo:

Estudo das leis morais - Parte 1: A lei natural

Estudo das leis morais - Parte 2: A lei de adoração

Estudo das leis morais - Parte 3: A lei do trabalho

Estudo das leis morais - Parte 4: A leis de reprodução

Estudo das leis morais - Parte 5: A lei de conservação


Estudo das leis morais - Parte 6: A lei de destruição

Estudo das leis morais - Parte 7: A lei de sociedade 


Estudo das leis morais - Parte 9: A lei de igualdade

Estudo das leis morais - Parte 10: A lei de liberdade 

Estudo das leis morais - Parte 11: A lei de justiça, amor e caridade

Estudo das leis morais - Parte 12: Perfeição moral (parte 1)


Estudo das leis morais - Parte 13: Perfeição moral (parte 2) [Final]

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